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Mostrando postagens de junho, 2023

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO - O caminho de Guermantes

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Esses “vocês” que poderiam ter mais cavalos que os Guermantes éramos nós. Semelhante a essas plantas que um animal, ao qual aderem por completo nutre com os alimentos que apanha, come e digere para elas e lhes oferece em seu último e assimilável resíduo. [ Sobre Françoise, a criada Françoise ] Para ela, a riqueza era como uma condição necessária à virtude, cuja falta faria a virtude destituída de mérito e encanto. Achava que o criado-grave era um amigo para ela, pois não cessava de lhe denunciar com indignação as medidas terríveis que a República ia tomar contra o clero. [ Lembra pobre de direita ] Enquanto o mundo for mundo – dizia – haverá patrões para nos fazerem trotar e criados para se prestarem a seus caprichos. O bairro parecia ao duque – e isso a grandes distâncias – apenas um prolongamento do seu pátio, uma pista mais comprida para seus cavalos. Sentimos num mundo, pensamos e nomeamos em outro mundo, podemos entre ambos estabelecer uma concordância, mas não preencher o interva

A MÚSICA DO SILÊNCIO

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[ Auri é uma personagem linda que aparece nos dois primeiros livros da Crônica do matador do rei . Eu adoro como ela é sensível e como respeita todas as coisas, a ponto de ver sentimentos e desejos nos objetos. Sentimentos bons e maus. A ponto de privar a si mesma de desejos e confortos, e até mesmo do essencial, em respeito aos sentimentos que ela percebeu em um objeto. Auri me lembra a Luna Lovegood dos livros do Harry Potter; uma pessoa considerada " louca " por seu imenso respeito ao mundo, às pessoas e aos seres com quem tem contato. Por isso gostei DEMAIS desse livro, talvez mais ainda do que dos anteriores, embora tenha gostado muito deles e esteja ansiosa para ler a continuação da Crônica ]. Nada era nada mais. Nada era nada que não devesse ser. Mais para um lado, a refinada xícara branca que pertencia a ele o esperava, com uma paciência que Auri invejou. Era sábio o bastante para se conhecer, corajoso o bastante para ser ele mesmo e impetuoso o bastante para se modif

O TEMOR DO SÁBIO (A Crônica do Matador do Rei Livro 2)

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  Se houvesse uma tempestade, gotas de chuva haveriam de bater e tamborilar nas silas trepadeiras atrás da hospedaria. O trovão ribombaria e roncaria e perseguiria o silêncio estrada afora, como folhas caídas de outono. A morte era como uma vizinha incômoda. Não se falava dela, por medo de que ela ouvisse e resolvesse fazer uma visita. – O que você trouxe para mim? – perguntou. – O que você trouxe para mim? – retruquei. Ela riu. – Eu tenho uma maçã que acha que é uma pera – disse, levantando a fruta – E um pãozinho que acha que é um gato. E uma alface que pensa que é uma alface. – Então, é uma alface esperta. – Dificilmente – disse Auri, com uma bufadela delicada – Por que uma coisa esperta haveria de pensar que é uma alface? – Mesmo se ela for uma alface? – Especialmente nesse caso. Ser uma alface já é muito ruim. Que coisa terrível também se pensar que é uma alface! [ Amei essa personagem! Ela me lembrou a Luna, e me pareceu ainda mais bonita ] Como um latoeiro conhece seus fardos. F