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Mostrando postagens de agosto, 2023

O POÇO DA SOLIDÃO

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PREFÁCIO Marguerite Radclyffe Hall, poetisa e romancista inglesa, nasceu no Condado de Hants, em Bournemouth, em 1886. E faleceu em Londres, aos 7 de outubro de 1943. A obra prima de Radclyffe Hall, foi O Poço da Solidão. Ao ser publicado em 1928, O Poço da Solidão deu ensejo a um dos mais celebres processos por obscenidade na história da justiça britânica, resultando numa proibição de 20 anos na Inglaterra e Estados Unidos. Além de sua qualidade intrínseca, O Poço da Solidão tem um valor histórico pois chamou a atenção do público para a existência das lésbicas, bem como das lésbicas para as suas próprias circunstâncias. Há aqueles para quem o livro de Marguerite ainda fala de um sofrimento muito próximo de sua realidade particular. *** Não era de índole religiosa, consequência decerto de estudar demais. Anna Gordon deu à luz uma filha; uma insofrida pequerrucha de flancos estreitos e de ombros largos. [ Desde aqui a autora dá características masculinas à personagem, como se para ser

ORYX E CRAKE

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Tantos acontecimentos cruciais ocorrem pelas costas das pessoas, quando elas não estão em condição de assistir: nascimento e morte, por exemplo. E o temporário esquecimento do sexo. Havia hardware demais por aí, dizia o pai de Jimmy. Hardware demais, software demais, bioformas hostis demais. Dolores teve que ir, porque a verdadeira mãe de Jimmy ia ficar lá o tempo todo – isso foi apresentado a ele como se fosse um presente – e ninguém precisava de duas mães, precisava? Ah, sim, precisava, pensa o Homem das Neves. Ah, sim, precisava mesmo. Jimmy já tinha fingido muitas vezes, portanto sabia identificar isso nos outros, quase sempre. Os pais de todo mundo reclamavam dessas coisas. Lembra quando se podia andar por toda parte? Lembra quando todo mundo morava na plebelândia? Lembra quando se podia viajar para qualquer lugar do mundo sem medo? Lembra as cadeias de hambúrgueres, sempre de carne de vaca, lembra as carrocinhas de cachorro-quente? Lembra de antes de Nova York ser Nova Nova York?

CORAÇÃO DAS TREVAS

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Entre nós havia o laço do mar, ele tinha o efeito de nos tornar tolerantes às longas histórias – e mesmo às convicções uns dos outros. Todos os navios são muito parecidos, e o mar é sempre o mesmo. Na imutabilidade que habitam, são as terras estrangeiras, os rostos estrangeiros, a imensidade cambiante da vida, que se sucedem à frente deles. Não existe nos homens do mar mistério algum além do próprio mar. Os longos relatos dos homens do mar têm uma simplicidade direta cujo significado total cabe na casca de meia noz. A selvageria mais extrema se fechara à sua volta. E não existe iniciação para esses mistérios. Ele precisava viver no meio do incompreensível, que também é detestável. E tudo isso ainda tem um fascínio de abominação. Eram conquistadores, e para isso basta a força bruta – nada de que alguém possa se vangloriar, pois a sua força não passa de um acidente produzido pela fraqueza dos outros. A conquista da terra, que antes de mais nada significa tomá-la dos que têm a pele de out