A FLORESTA SOMBRIA
(O problema dos três corpos Livro 2)
Os axiomas da sociologia cósmica:
— Primeiro: a principal necessidade de uma civilização é a sobrevivência. Segundo: a civilização cresce e se expande continuamente, mas a matéria total do universo permanece constante.
Sem medo de altura, é impossível reconhecer a beleza de lugares altos.
A união da raça humana, mesmo ameaçada pela devastadora Crise Trissolariana, permanece um sonho distante. Jamais acontecerá uma fuga em larga escala da humanidade. — A tecnologia não é o maior obstáculo para a fuga. — Os conflitos entre os países também não representam o maior obstáculo para a fuga. Qual é, então? — Os conflitos entre as pessoas. É um obstáculo insuperável. A questão de quem vai e quem fica envolve valores humanos básicos que, diante da perspectiva de desastre absoluto, são uma armadilha. Nenhum ser humano jamais conseguirá escapar dessa armadilha.
A verdade sempre junta poeira.
— Você não entende? Ofereci meu amor mais profundo para uma ilusão!
— Você acha que o objeto do amor das outras pessoas existe de verdade?
Como deixar uma cama de mármore tão macia quanto um colchão de penas?
Escave uma depressão no mármore que tenha exatamente o mesmo tamanho e formato de um corpo humano. Assim, quando a pessoa se deitar na pedra, a pressão vai se distribuir de maneira uniforme e a cama parecerá extremamente macia.
Quando sabemos onde estamos, o mundo fica delimitado como um mapa. Quando não sabemos, o mundo parece infinito.
Leva pelo menos vinte mil anos para a evolução biológica natural surtir qualquer efeito, mas a humanidade tem só cinco mil anos de história, e a civilização tecnológica moderna, só duzentos. Ou seja, o estudo da ciência moderna de hoje é feito pelo cérebro do homem primitivo.
Isolado do resto do mundo, ele se afundara cada vez mais em uma ilusão: talvez o mundo exterior realmente tivesse algo de quântico e só existisse ao ser observado.
— Hoje, o maior obstáculo para a sobrevivência da humanidade é a própria humanidade.
Escuridão. Antes da escuridão não havia nada além do nada, e o nada não tinha cor.
Como a beleza sempre foi associada ao bem, se de fato havia alguma separação entre o bem e o mal no universo, aquele objeto só poderia pertencer ao lado do bem.
Ele sabia que não se tratava de coincidência o fato de que a Terra era adequada para a vida humana, e que definitivamente não se tratava do efeito do princípio antrópico, e sim do resultado da interação a longo prazo da biosfera com o ambiente natural, um resultado que dificilmente se repetiria em outro planeta em volta de alguma estrela distante.
Luo Ji sempre vivera um dia de cada vez, aproveitando o momento. Assim, todo ganho também era perda, e no final pouco tinha restado.
O que o mundo humano era aos olhos das montanhas? Talvez só algo que elas viam em uma tarde tranquila. Primeiro, surgiam alguns seres vivos pequenos na planície. Ao fim de algum tempo, eles se multiplicavam, e um pouco depois erigiam estruturas parecidas com formigueiros, que logo se espalhavam por toda a região. As estruturas brilhavam por dentro, e algumas soltavam fumaça. Ao fim de mais um tempo, as luzes e a fumaça desapareciam, assim como os seres vivos pequenos, e depois as estruturas tombavam e eram enterradas pela areia. Nada além disso.
Primeiro: a principal necessidade de uma civilização é a sobrevivência. Segundo: a civilização cresce e se expande continuamente, mas a matéria total do universo permanece constante. Mesmo se, internamente, as civilizações forem benevolentes ou maliciosas, são todas idênticas quando entram na trama formada pela desconfiança em cadeia. O universo é uma floresta sombria. Nessa floresta, o inferno são os outros. Qualquer ser vivo que exponha a própria existência será aniquilado de imediato. É a explicação para o Paradoxo de Fermi.
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