A metafísica dos tubos (fichamento)
(Nothomb, Amélie. A metafísica dos tubos;
Tradução: Clóvis Marques - Rio de
Janeiro: Record: 2003)
Os tubos
são singulares misturas de plenitude e vazio, matéria oca, uma membrana de
existência protegendo um feixe de inexistência. O canudo é a versão flexível do
tubo, moleza que não o torna menos enigmático. - Página 7
Ser ou
não ser, não era esta a sua questão. - Página - Página 10
Deus era
a encarnação da força da inércia – a mais forte das forças. - Página 11
Quando
uma ideia cujo absurdo ficou demonstrado continua a causar estragos,
descobrimos, perplexos, o temível poder da imobilidade. - Página 11/12
A
alimentação divina na esfera de ação dos bombeiros. - Página 12
Se o tubo
tivesse alguma forma de linguagem, teria retrucado ao pensador de Éfeso: “Tudo
fica parado”, “tudo é inércia”, “estamos sempre nos banhando no mesmo pântano”.
- Página 13
O tubo
encontrara uma solução engenhosa para as polêmicas linguísticas nacionais: ele
não falava, jamais dissera alguma coisa, nem mesmo chegara alguma vez a
produzir algum som. - Página 13
Deus não
se cansava de efetuar seu primeiro absolutamente nada. - Página 14
O tempo é
uma invenção do movimento. - Página 14
O olhar é
uma escolha. O olhar, que é a essência da vida, é antes de tudo uma recusa. 15
Viver
significa recusar. - Página 15
Quem
poderia supor que sem acidente o homem se haveria de manter perfeitamente
inerte? - Página 17
Existem
acidentes físicos e acidentes mentais. Não há nada mais fundamental no devir
humano que os acidentes mentais. - Página 17/18
Também
pode acontecer que o acidente mental seja secretado pelo próprio cérebro: são
os acidentes mais misteriosos e mais graves. - Página 18
Ante a
pergunta atroz e informulável que o assalta, ele busca e encontra mil respostas
inadequadas. - Página 18
A vida é
que deveria ser vista como um mau funcionamento. - Página 19
Os
acontecimentos mais fundamentais da humanidade passam quase despercebidos. - Página
20
O irmão e
a irmã foram convidados a se extasiar ante a santa cólera de Deus. - Página 21
Por que
aquela cólera? A única causa concebível era o acidente mental. - Página 22
Nem por
um instante ele duvidava de sua divindade, e ficava indignado por constatar que
os seus próprios lábios não pareciam estar informados. - Página 24
O mundo é
inacessível às mãos e a voz de Deus. - Página 26
O prazer
é uma maravilha, pois me ensina que eu sou eu. - Página 29
Este
chocolate é um bloco de nada. Basta pô-lo em minha boca e ele se transforma no
prazer. Ele precisa de mim. - Página 29
Há muito
e muito tempo existe uma enorme seita de imbecis que opõem sensualidade a
inteligência. - Página 31
A melhor
coisa para se julgar inteligente continua sendo a estupidez. - Página 31
À falta
de volúpia a própria ideia de volúpia é suficiente. - Página 31
A
frigidez triunfante condena-se à celebração de seu próprio vazio. - Página 31
A
lembrança é um dos aliados mais indispensáveis da volúpia. - Página 33
Correr
era esse fabuloso achado que possibilitava todas as fugas. - Página 35
Agora que
eu cumprira meu dever de cortesia, podia dedicar-me à arte e à filosofia. - Página
36
Dizer as
coisas em voz alta confere à palavra pronunciada um valor excepcional. - Página
36
Que será
melhor, um pião que gira ou uma foca que vive? Na dúvida prefiro abster-me. - Página
37
Sabia que
era necessário estar sempre à altura daquilo que examinávamos. - Página 37
Era um
milagre: o aparelho engolia as realidades materiais que encontrava e as
transformava em inexistência. - Página 37
A palavra
provava aos indivíduos que eles estavam ali. Deduzi que não tinham tanta
certeza. - Página 40
Falar era
um prelúdio ao combate. Falar também podia servir para assassinar. Havia um uso
inofensivo da palavra, era para avisar às pessoas que não iam ser mortas. - Página
41
A morte
era o teto. O teto é a tampa do cérebro. Quando chega a morte, uma gigantesca
tampa é pousada sobre a nossa panela craniana. - Página 43
A morte é
ao mesmo tempo horrível e tentadora: sentimos que nela poderíamos estar bem. - Página
44
É preciso
resistir a ela. Pela única razão de que o trajeto é quase sempre de ida apenas.
Se não fosse por isso, não seria necessário. - Página 44
Quando
Deus precisa de um lugar para simbolizar a felicidade terrestre, escolhe um
jardim. - Página 55
Como as
pessoas deviam ser-me gratas! Como suas vidas deviam ser tristes antes de mim! -
Página 56
Só os
gramáticos são ingênuos o suficiente para pensar que a exceção confirma a
regra. - Página 56/57
Antieu. -
Página 57
Ofereci
então minha arrogância ao jardim. - Página 59
Por que
seriam imortais os deuses? Seria a peônia menos sublime pelo fato de que vai
murchar? - Página 67
Decidi aprende
a ler; riram na minha cara. Não via qual era o problema. Aprendera sozinha a
fazer coisas muito mais dignas de nota: falar, andar, nadar, reinar e jogar
pião. - Página 69
Seria capaz
de adorar o universo apenas por esta prodigalidade do oxigênio. - Página 71
Maio merecia
afinal ser o mês dos meninos: era um mês de declínio. - Página 77
Existe algo
ainda mais nojento que a gordura jovem: é a gordura velha. - Página 79
As meninas
não poderiam ser representadas por um animal repugnante. - Página 79
Parece que
todos os irmãos mais velhos são assim: talvez fosse o caso de exterminá-los. - Página
80
O leitmotiv da minha infância, da minha
adolescência e das peripécias subsequentes. “O que te foi concedido ser-te-á
tomado”: tua vida inteira será ritmada pelo luto. - Página 113
Tentarão enganar-te
como Deus engana Job, “dando-lhe” uma outra mulher, uma outra casa e outros
filhos. - Página 113
“O que te
foi concedido ser-te-á tomado”: é a regra. - Página 113
E se você
soubesse o que terão a coragem de te tomar um dia? - Página 114
“Já que
não teremos muito tempo juntos, vou te dar em um ano todo o amor que poderia te
dar em uma vida”. - Página 114
A lembrança
tem o mesmo poder que a escrita. - Página 116
Se conseguires
escrever as maravilhas do teu paraíso na matéria do teu cérebro, transportarás
para tua cabeça, se não sua realidade milagrosa, pelo menos sua força. - Página
116
Que se
passa na cabeça dos pais bem-intencionados quando, não satisfeitos em
cultivarem ideias inacreditáveis sobre seus filhos, tomam iniciativas por eles?
- Página 120
Diga-me o
que te enoja e eu te direi quem és. Só nossas repugnâncias falam realmente de
nós. - Página 125
Que aconteceria
se as pessoas começassem a exibir suas entranhas? - Página 131
Você não
passa de um tubo saído de um tubo. Lembre-se de que você é tubo e tubo voltará
a ser. - Página 131
A vida é
o que você está vendo. A vida é esse cano que engole e continua vazio. - Página
132
Nada em
nosso universo merece tanto ser admirado quanto os bambus. - Página 133
Não se pode
mais nem cometer suicídio tranquila. - Página 133
Não existe
nada mais fascinante que a expressão de um ser humano que vê você morrer sem
tentar salvá-lo. - Página 135
Milhares de
pessoas mataram-se porque não queriam ser mortas, milhares de pessoas se
atiraram para a morte porque tinham medo da morte. Há aí uma lógica do paradoxo
que me deixa siderada. - Página 137
A melhor
razão para se suicidar é o medo da morte. - Página 137
Estou mergulhada
numa maravilhosa ausência de angústia. - Página 137
A salvação
não passa de um atalho. Um belo dia, não haverá mais como adiar. - Página 142
Comentários
Postar um comentário