O HOMEM DO CASTELO ALTO

 


O mundo inteiro sabia e, mesmo assim, as baboseiras que o Líder falava ainda eram sagradas, ainda eram o Evangelho. Suas ideias já tinham agora contaminado uma civilização inteira e, como esporos do mal, as bichas louras cegas voavam da Terra para os outros planetas, espalhando a infecção.

As centenas de milhares de pessoas aqui nesta cidade. Será que imaginam que vivem num mundo são?

Mas... são deliberadamente cruéis... será isso?

O abstrato é real, o real é invisível.

Porque um dia não haverá mais vida; houve um dia em que o espaço era só partículas de poeira, gases quentes de hidrogênio, mais nada, e assim será outra vez.

Querem ser os agentes da história, não as vítimas.

Eu sou fraco, pequeno, sem a menor importância diante do universo. Não sou notado dentro dele; vivo sem ser visto. Mas por que isso é ruim? Não é melhor assim? Os deuses destroem quem atrai a atenção deles. Seja pequeno... e escape à inveja dos grandes.

A culpa é daqueles físicos e da teoria da sincronicidade, cada partícula ligada a todas as outras; não se pode peidar sem alterar o equilíbrio do universo.

Isso faz da vida uma piada sem ninguém por perto para dar risada.

E quem sou eu? A pessoa errada; isso eu posso dizer.

O destino acaba nos alcançando de qualquer forma.

Sou pequeno demais, pensou. Posso apenas ler o que está escrito, levantar os olhos e então abaixar a cabeça e seguir em frente de onde parei como se nada tivesse visto.

Com relação aos velhos, doentes, loucos, inúteis de toda espécie. “Para que serve um recém-nascido?”, teria perguntado um famoso filósofo anglo-saxão. Aprendi esta frase de cor e tenho meditado muito sobre ela. Senhor, não há utilidade. Em geral. Não é verdade – disse o sr. Tagomi – que nenhum homem deve ser o instrumento das necessidades de outro?

Dispensa as chamadas ilusões necessárias, como a crença em Deus etc.

O mal existe! E é palpável como concreto. O mal não é um ponto de vista. É algum ingrediente em nós. No mundo. Derramado sobre nós, sendo absorvido pelos nossos corpos, nossas mentes, corações, pelo próprio chão.

Somos toupeiras cegas. Rastejando pelo chão, farejando com nossos focinhos. Não sabemos nada. Percebi isso... e agora não sei para onde ir.

Sim, o romancista conhece a humanidade, sabe como ela não vale nada, governada por seus testículos, controlada pela covardia, traindo qualquer causa por ganância.

Fomos derrotados, e nossas derrotas são assim, tão tênues, tão delicadas, que mal somos capazes de percebê-las. Na verdade, temos de subir um grau em nossa evolução até mesmo para ter consciência do que aconteceu.

De qualquer maneira. Aqui estou eu. Mas não por muito tempo.

A sociedade totalitária alemã parece ser uma forma de vida defeituosa, pior do que o natural. Pior em todas as suas misturas, no seu potpourri de coisas sem sentido.

Nosso espaço e nosso tempo são criações da nossa própria mente.

Quando nosso planeta virar um planeta morto, morto por nossas próprias mãos?

É impossível que o nosso mundo seja o único; deve haver outros mundos invisíveis para nós, em alguma região ou dimensão que simplesmente não percebemos.

Mas não podemos fazer tudo ao mesmo tempo; é uma sequência. Um processo que se desenrola. Só podemos controlar o fim fazendo uma escolha a cada passo. Só podemos ter esperança. E tentar.

Não temos o mundo ideal, tal como gostaríamos, onde a moralidade é fácil porque a cognição é fácil. Onde se pode acertar sem esforço, porque o óbvio é perceptível.

A morte a cada momento, uma avenida sempre aberta, a qualquer altura da viagem. A verdade, pensou. Terrível como a morte. Só que mais difícil de encontrar.

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