A GUERRA DE TROIA
Quando os homens querem perder a si mesmos, tudo serve de pretexto.
O que a deixava agitada não eram visões de um distante futuro, mas a presença palpável do mal, que já estava li, na cidade, emboscado nas sombras de cada rua de Troia.
[...]
Tu saberás o futuro, mas jamais te darão ouvidos! - tinha dito o senhor dos oráculos, e essa terrível maldição arruinou a vida de Cassandra, indispondo-a com a família, tornando-a antipática a seu povo, fazendo-a sentir-se quase transparente, vazia como um fantasma, presa naquela tortura de falar sem ser ouvida.
Afastou o véu que a cobria e ofereceu o peito desnudo ao golpe que ia libertá-la para sempre dessa beleza fatal que aprisionava sua vida.
Já não havia troianos para matar.
[...]
Muitas mães desesperadas se arremessaram lá de cima, abraçadas em seus filhos, preferindo morrer com eles a vê-los massacrados pelo inimigo. Pelas portas arrombadas, pelas janelas em chamas, em muitas casas via-se balançar o corpo das mães e das filhas que tinham se enforcado para escapar à desonra do cativeiro.
[...]
Centenas de mulheres, subitamente viúvas, corriam de um lado para o outro à procura de alguém que lhes desse a morte – desejo inútil, porque nenhum grego ia ajudá-las a morrer: elas estavam sendo poupadas para a partilha final do prêmio dos vencedores.
Ouro, prata, mulheres e rebanhos: este era o grande butim que seria dividido entre os chefes e os soldados, como prêmio da vitória.
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