ECCE HOMO de F. Nietzsche

 

[Nietzsche está longe de ser meu filósofo favorito principalmente por causa da sua arrogância e prepotência]

Prefácio:

“humildade é o postulado dos vagabundos” Goethe - 9

“Quem rebaixa aos outros, quer elevar a si mesmo” Lucas – 9

“Quem rebaixa a si mesmo, quer ser elevado” Nietzsche – 9

Para Nietzsche o futuro da humanidade depende dos super-homens, capazes de se sobrepor à fraqueza, e não da integração destes ao rebanho comum dos fracos. – 9

Minha ambição é dizer, em dez frases, o que todos os outros dizem num livro... o que todos os outros não dizem num livro... – 10

Nietzsche abre o Ecce homo declarando que seu retrato surgirá da proclamação da diferença existente entre sua própria grandeza e a pequenez de sua época. – 12

A humildade nunca fez parte de sua índole. – 12

---

O homem do conhecimento não tem apenas de amar seus inimigos, ele também tem de poder odiar seus inimigos.

A gente retribui mal a um professor, quando permanece sendo sempre apenas seu aluno. E por que vós não haveríeis de querer arranca os louros da minha coroa? – 20

Eu sou um duplo, eu também tenho um “segundo” rosto, além do primeiro. E talvez também um terceiro... – 26/27

Eu sou um nobre polonês pur sang, no qual não se misturou uma gota sequer de sangue ruim. Muito menos de sangue alemão. – 29

Eu não haveria de conceder ao jovem imperador alemão a honra de ser meu cocheiro. – 30

Com ninguém a gente é menos aparentado do que com seus pais. – 30

Basta que me façam algo de mau, que eu vou à “desforra” por causa disso, isso é certo: em pouco tempo encontro uma oportunidade de expressar meu agradecimento ao “malfeitor” (inclusive agradecendo-lhe o malfeito) – ou de pedir algo a ele, o que pode ser mais cortês do que dar alguma coisa... Também me parece que a palavra mais grosseira, a carta mais grosseira, ainda é mais bondosa, mais honesta do que o silêncio. – 34

Engolir sapos faz, irremediavelmente, um mau caráter – e inclusive estraga o estômago... – 34

Tomar não o castigo, mas sim a culpa sobre as costas, isso é que seria divino. – 35

Buda. Sua “religião”, que poderia ser melhor classificada como uma higiene, a fim de não misturá-la a coisas tão altamente dignas de pena como o cristianismo. – 36

“Não é através da hostilidade que se põe um fim à hostilidade, é através da amizade que se põe um fim à hostilidade. – 36

O ressentimento, nascido da fraqueza, não é prejudicial a ninguém mais do que ao próprio fraco. – 36

Nos tempos da décadence eu os proibi a mim mesmo por serem daninhos; e assim que a vida voltou a ser abundante e orgulhosa o suficiente, proibi-os por estarem abaixo de mim. – 37

O páthos agressivo faz parte, necessariamente, da força, assim como os sentimentos da vingança e da revanche fazem parte da fraqueza. A mulher, por exemplo, é vingativa: isso é condicionado por sua fraqueza tanto quanto pelo seu interesse pela penúria alheia. – 37/38

Todo crescimento se revela na procura de um inimigo – ou de um problema – poderoso. – 38

Eu mesmo, um opositor de rigueur do cristianismo, estou longe de guardar rancor a um indivíduo por causa de algo que representa o infortúnio de milênios... – 39

Deus é uma resposta esbofeteada e grosseira, uma indelicadeza contra nós, os pensadores. - 44

Sentar o menos possível: não acreditar em nenhum pensamento que não tenha nascido ao ar livre e em livre movimentação – quando também os músculos estiverem participando da festa. – 48

Uma indolência das vísceras, por menor que seja, se levada à condição de mau hábito, é perfeitamente suficiente para fazer de um gênio algo mediano, algo “alemão”. – 48

Talvez não faça parte do meu feitio ler muito e muitas coisas: um quarto de leitura me deixa doente. – 52

Eu acredito apenas na formação francesa e considero todo o resto que se faz na Europa em termos de “formação” um equívoco – sem falar da formação alemã... – 52

A única desculpa de Deus é o fato de não existir. – 53/54

Qual foi a maior objeção à existência feita até hoje? Deus... – 53/54

Entende-se o Hamlet Não é a dúvida, é a certeza que enlouquece... – 55

Sou, em todos os meus instintos mais profundos, estranho aquilo que é alemão, de modo que tão-só a proximidade de um alemão retarda a minha digestão. – 56/57

O que eu jamais perdoei a Wagner? O fato de ter condescendido com os alemães... o fato de ter descido à condição de alemães... o fato de ter descido à condição de alemão imperial... até onde a Alemanha alcança, ela deteriora a cultura... – 58

Eu declaro Wagner o maior benfeitor da minha vida. – 59

Tão certo quanto o fato de Wagner ser apenas um mal-entendido entre os alemães, tão certo também eu o sou e sempre haverei de ser um mal-entendido.. – 59

Jamais haverei de admitir que um alemão possa saber o que é música. – 59

Eu não sei fazer diferença entre lágrimas e música. – 60

A metrópole alemã, esse vício construído, onde nada cresce, onde qualquer coisa que seja, boa ou má, se acoitou. – 61

O erudito, que no fundo apenas se limita a “moer” livros, ao fim das contas acaba perdendo por completo a capacidade de pensar por si mesmo. – 62

O erudito gasta toda sua força em dizer sim e não, na crítica do já pensado – ele mesmo não pensa mais... – 62

Amor ao próximo, viver para os outros e outras coisas pode ser a medida de defesa para a manutenção do mais duro dos egocentrismos. – 63

O imperador alemão pactua com o papa como se o papa não fosse o representante dos inimigos mortais da vida! – 66

Quem me viu durante os setenta dias deste outono, em que, sem interrupções, eu produzi apenas coisas de primeira categoria – coisas que nenhum ser humano é capaz de fazer depois de mim, imitando... ou de fazer antes de mim, fingindo. – 67

Aquele que eu desprezo advinha que é desprezado por mim. – 67

Alguns apenas nascem postumamente. – 69

Ainda no verão passado, em um tempo em que pretendi arrancar do equilíbrio todo o resto da literatura universal com minha literatura pesada, demasiado pesada. -70

Ninguém pode captar nas coisas, concluídos os livros, mais do que ele mesmo já sabe. – 71

Entre todos os livros do mundo não existem livros tão orgulhosos e ao mesmo tempo tão refinados quanto os meus. – 75

Antes de mim jamais se soube o que é possível alcançar com a língua alemã – o que é possível alcançar com uma língua qualquer. – 77

Parecem simples ingenuidades do engano: por exemplo, aquela crença que assegura que “egoísta” e “altruísta” são antônimos. – 78

A mulher é indizivelmente mais má do que o homem, e também mais esperte; a bondade na mulher já é uma espécie de degeneração. – 79

Como a gente cura – “liberta” – uma mulher. A gente faz um filho nela. – 79

A pregação da castidade é um incitamento público ao antinatural. Toda expressão de desprezo à vida sexual, toda a contaminação da mesma pelo conceito “impura” é um crime contra a vida em si – é o pecado intrínseco contra o espírito santo da vida. – 80

Um dia o mundo haverá de se referir aos sacerdotes cristãos como uma “espécie traiçoeira de anões”, de “seres subterrâneos”. – 83

Não existe nenhum mal-entendido mais maldoso do que acreditar que o grande triunfo armado dos alemães prove alguma coisa em favor dessa formação. – 89

Aquilo que eu hoje sou, onde eu hoje estou – em uma altura na qual eu não falo mais através de palavras, mas sim através de raios. – 94

Onde vós vedes coisas ideais, eu vejo – coisas humanas, ah, coisas demasiado humanas! – 96

Nenhuma monstruosidade falta entre eles, nem mesmo a do antissemita... O pobre Wagner! Onde é que ele foi acabar!... se pelo menos tivesse se lançado entre os porcos! Mas entre os alemães! – 98

Aquele mais baixo dos seres, soterrado e ao mesmo tempo acalmado sob um constante ter-de-ouvir o que outros seres diziam (e é isso que significa ler!) despertou devagar, tímida e duvidosamente – até que enfim voltou a falar. – 101

Eu sempre reconheci os sem esperança entre meus leitores, por exemplo o típico professor alemão. – 103

O homem moral não está mais próximo do mundo inteligível do que o físico – pois o mundo inteligível não existe. – 103

Eu estava sozinho e ainda tinha meus segredos com o mar. – 104

Que sentido têm aqueles conceitos mentirosos, os conceitos auxiliares da moral, da “alma”, do “espírito”, do “livre-arbítrio”, de “Deus”, se não o de arruinar fisiologicamente a humanidade. – 106/107

Essa mais alta fórmula da afirmação que um dia pôde ser alcançada. – 110

A dor não serve de objeção contra a vida. – 112

Tudo o que é ser quer se tornar palavra, tudo o que é vir-a-ser quer aprender a falar contigo. – 116

Aquila, o contraconceito de Roma, fundado por hostilidade a Roma. – 116/117

A gente paga caro por ser imoral: morre-se mais de uma vez durante a vida por causa disso. – 118

Tudo o que é grande, uma obra, uma ação volta-se – assim que está acabada – sem demora contra aquele que a executou. – 118

A solidão tem sete couros: nada mais a atravessa. – 118

Uma fome cresce da minha beleza: gostaria de causar dor àqueles que ilumino, gostaria de roubar àqueles que presenteio – sinto fome, pois, de ser mau. – 123

Redimir o passado e transformar tudo aquilo que “era uma vez” em “era assim que eu queria!” – apenas isso seria redenção para mim. – 125

O homem é para ele uma pré-forma, uma matéria, uma pedra feia que precisa de escultor. – 125

A gente tem de ter coragem no corpo até para conseguir suportá-lo. – 127

Foi o próprio Deus que ao fim de sua obre se disfarçou de serpente indo se deitar sob a árvore do conhecimento: assim ele se restabeleceu do fato de ser Deus... ele havia feito tudo demasiado belo... o diabo é apenas a ociosidade de Deus a cada sétimo dia. – 128

O nascimento do cristianismo a partir do espírito do ressentimento, não, conforme se acredita, apenas do “espírito”. – 129

Consciência não é, conforme se acredita, “a voz de Deus no interior do homem” – ela é o instinto da crueldade, que se volta para trás, e para dentro, depois de ver que não pode mais se descarregar para fora. – 129

Pois o homem ainda prefere querer o nada a não querer. – 130

Se alguém quiser ter uma ideia a respeito, de maneira mui breve, como tudo estava de ponta-cabeça antes de mim, comece por essa obra. – 131

A gente tropeça em verdades, algumas delas a gente chega a matar pisoteadas – elas são excessivas... mas aquilo que a gente toma nas mãos, já não tem mais nada de duvidoso. – 131

Só eu é que alcancei ter a “verdade” nas mãos, só eu é que posso decidir. 131/132

O homem bom era justamente aquele que menos tinha certeza a respeito de qual era o caminho correto. – 132

Falando sério, ninguém sabia antes de mim o caminho correto. – 132

Existe uma historiografia imparcial-alemã – eu temo – até mesmo uma historiografia antissemita – existe uma historiografia cortesã e o senhor von Treitschke não tem a menor vergonha dela. – 136

Todos os crimes culturais de quatro séculos pesam na consciência dos alemães! – 137

Lutero, essa fatalidade de monge, restabeleceu a igreja e, o que é mil vezes pior, o cristianismo inteiro, exatamente no instante em que ele havia sucumbido. – 137

Lutero atacou a igreja e – consequentemente! – a restabeleceu... os católicos teriam motivos para fazer festas em homenagem a Lutero, escreverem poemas em louvor a Lutero – Lutero e o “renascimento ético”! – 137

E por acaso alguém, a não ser eu, sabe um caminho para fugir a esse beco sem saída? – 138

Moedeiros falsos (- Fichte, Schelling, Shopenhauer, Hegel, Schleiermacher, assim como Kant e Leibniz -): eles jamais devem merecer a honra de ver que o primeiro espírito íntegro da história do espírito, o espírito no qual a verdade sobre a falsificação praticada durante quatro séculos é levada ao tribunal, é relacionado como parte do espírito alemão. – 139

Em La Rochefoucauld, um Descartes são cem vezes superiores ao primeiro dentre os alemães no que diz respeito à integridade. – 139

No alemão, quase como na mulher, a gente nunca consegue chegar ao fundamento, ele não tem fundamento: isso é tudo. – 139

Eu conheci eruditos que consideram Kant profundo. – 140

É em vão que procuro neles por um sinal de tato, de délicattesse para comigo. De judeus sim, mas jamais de alemães. – 141

Há mais cinismo na benevolência para comigo do que no ódio de qualquer tipo. – 142

Dez anos: e ninguém na Alemanha sentiu peso na consciência pelo fato de não defender meu nome contra o silêncio absurdo em que jaz enterrado. – 142

Eu não sou homem, eu sou dinamite. – 144

Religiões são negócios do populacho e eu sempre tive a necessidade de lavar minhas mãos ao entrar em contato com pessoas religiosas. – 144

Até hoje não houve nada mais mentiroso do que os santos. – 144

Nietzsche chama o próprio Ecce homo de “mais alto superlativo da dinamite” e diz que a obra vai tão além do conceito “Literatura”, que nem mesmo na natureza ele poderia encontrar uma comparação digna dela. – 144

Só eu é que descobri a verdade, pelo fato de eu ter sido o primeiro a sentir – a farejar – que a mentira era mentira. – 145

Só a partir de mim é que voltaram a existir esperanças. – 145

Zaratustra é mais verdadeiro do que qualquer outro pensador. Sua lição, e só ela, tem a veracidade como sua mais alta virtude. – 146

A condição de existência dos bons é a mentira. – 147

A cegueira ante o cristianismo é o crime par excellence – o crime contra a vida. – 151

É a situação completamente terrível de que a própria antinatureza recebeu as supremas honras como moral. – 152

Enganar-se a tal ponto, não na condição de ser individual, não na condição de povo, mas sim na condição de humanidade!... Que se tenha ensinado o desprezo pelos primeiríssimos instintos da vida, que se tenha inventado uma “alma”, um “espírito” para arruinar o corpo; que se ensine a ver algo impuro no pressuposto da vida, a sexualidade; que se busque o princípio ruim naquilo que é mais básico e necessário ao florescer, o estrito amor-a-si-mesmo. – 152

Que se veja nos signos típicos do declínio e da contradição de instinto, no que é “desinteressado”, na perda do centro de gravidade, na “despersonalização” e no “amor ao próximo” (vício pelo próximo!) o valor mais elevado, que digo?! – o valor em si!... Como?!Será que a humanidade inteira está em décadence? Será que ela sempre esteve? – 152

Não é a humanidade que está em degenerescência, mas apenas aquela espécie parasitária de homem, a do sacerdote. – 152

A noção “Deus”, inventada como noção-antítese à vida – tudo nocivo, venenoso, caluniador, toda a hostilidade mortal contra a vida enfeixada em uma unidade horrível! O conceito “além”, inventado como “mundo verdadeiro” para arrancar o valor ao único mundo existente. – 153

A noção de “alma”, “espírito”, e por fim a de “alma imortal”, inventada para desprezar o corpo, torná-lo enfermo – “santo” –, para tratar de uma frivolidade terrível todas as coisas que na vida merecem seriedade. 153/154

A noção “pecado”, inventada junto com o instrumento de tortura correspondente, o conceito “livre-arbítrio”, a fim de confundir os instintos, a fim de fazer da desconfiança frente aos instintos uma segunda natureza! – 154

Quem quer ser pago?

Os que podem ser comprados... – 158

Ante todos os virtuosos quero ser culpado. – 158

Em casos em que tenho a necessidade de me restabelecer rapidamente de uma impressão mesquinha – quando, por exemplo, devido à minha crítica ao cristianismo tive de respirar por muito tempo o ar pestilento do apóstolo Paulo – bastam-me, como remédio heroico, algumas páginas de Petrônio e de imediato volto a me sentir saudável. – 160

Platão, para não falar de filósofos da “porta dos fundos” – de Kant – é um simples poltrão perto de mim. – 161

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

GÊNEROS LITERÁRIOS - Angélica Soares

O GUIA DO MOCHILEIRO DAS GALÁXIAS - Douglas Adams

DO GROTESCO E DO SUBLIME de Victor Hugo