A EVOLUÇÃO E OS GRANDES TEMAS - David N. Stamos



A EVOLUÇÃO E OS GRANDES TEMAS

STAMOS, David N. (2011). A evolução e os grandes temas. Tradução Célia CamargoBartalotti. Loyola. São Paulo


Introdução:

Desde A origem das espécies de Charles Darwin, publicado pela primeira vez em 1859, as evidências a favor da evolução cresceram exponencialmente, de forma que a biologia evolutiva há muito tornou-se o núcleo e a base da biologia profissional. (pág. 12)

Os princípios evolutivos não só explicam suficientemente o que encontramos no mundo biológico como também, PR si sós, permitem-nos prever novas descobertas e compreender os mistérios da vida em sua ampla diversidade. (pág. 13)

Cada nova informação obtida por biólogos, , cada nova descoberta, encaixa-se perfeitamente no modelo evolutivo iniciado por Darwin. Das mudanças e formas transicionais estudadas nos registros fósseis à distribuição geográfica de plantas e animais, suas relações anatômicas, o estudo do DNA e mecanismos relacionados, ao estudo das mutações e evolução de vírus e da resistência evolutiva de bactérias a antibióticos, “Nada na biologia faz sentido senão à luz da evolução”. (Theodosius Dobzhansky, 1973, 125) - (pág. 13)

Esse mecanismo já foi estudado e confirmado repetidas vezes no laboratório e na natureza e continua sendo a explicação causal central da adaptação biológica, da complexidade e da constituição dos organismos. (pág. 13)

Negar a evolução é negar a própria natureza e valor das evidências. (pág. 13)

Desprezaríamos um juiz ou um júri que decidissem casos no tribunal com base em emoções e ideologia em vez de apoiar-se em provas. O delito é ainda pior no caso dos grandes temas da vida. (pág. 13)

Temos obrigação tanto pessoal como social de evitar crenças que não se apoiem em evidências ou que se oponham a elas, da mesma maneira como temos uma obrigação tanto pessoal como social de evitar a disseminação de doenças. (pág. 13/14)

Ouvia-se muito sobre ciência da criação [...] Recentemente La ressurgiu com uma nova roupagem conhecida como teoria do design inteligente. Não seria a biologia evolutiva, afinal, apenas uma teoria concorrente? A resposta é claramente não. (pág. 14)

A teoria do design inteligente não é ciência legítima. (pág. 14)

Pensamento mitológico disfarçado com um avental de laboratório. É a tentativa de pegar um modo de pensar comum a povos amedrontados e ignorantes que vivem em sociedades pré-científicas, um modo de pensar talvez profundamente arraigado na natureza humana, e torná-lo intelectualmente respeitável. (pág. 14)

O Público foi tapeado por uma enorme máquina de propaganda conduzida pela direita religiosa. O debate sobre a teoria do design inteligente não existe dentro da ciência em si, e por razões muito boas. (pág. 14)

A evolução “ácido universal” (Daniel Dennett (1995 - 63)) que corrói seu caminho através de nossas acalentadas crenças em praticamente todas as áreas da vida, como ética, política, romance e religião. (pág. 15)

Margaret Mead (Coming of Age in Samoa) afirmou que na cultura samoana os homens não eram dominantes [...] Mead, como se soube depois, obteve suas informações não de um estudo criterioso dos samoanos mas de entrevistas com 25 meninas adolescentes samoanas em uma aldeia, que haviam se divertido inventando histórias. (pág. 19)

Podemos resistir ao fato tanto quanto quisermos, mas ele continua sendo o fato fundamental de nossa existência. (pág. 20)

Seria incrivelmente notável se nessa espécie animal não tivesse ocorrido a evolução de instintos especiais que ocorreu em todas as outras. (pág. 20)

O medo é de que, uma vez reconhecido que os genes influenciam o comportamento humano, deva-se reconhecer também que eles determinam o comportamento humano, de modo que o status quo com toda a sua injustiça fique justificado e qualquer esperança de mudança progressiva seja perdida. [...] “determinismo biológico” é um termo que só assusta, mas não tem respeitabilidade científica. (pág. 21)

Em 1996, o falecido papa João Paulo II aceitou oficialmente a evolução [...] essa é a posição oficial do Vaticano.  (pág. 23)

O maior inimigo do raciocínio justo é a “atitude mental dogmática” (F.H. Bradley – Appearance and reality - 1893). (pág. 30)

1 – Evolução e conhecimento

Para Popper, a vida “evoluiu ou surgiu” gradualmente de matéria não viva e a mente evoluiu ou surgiu gradualmente das coisas vivas. (“Natural Selection ad the Emergence of Mind” (1978)) - (pág. 35)

“Programas comportamentais fechados” (Ernst Mayr) programas comportamentais que são muito detalhados e rígidos e que estão inseridos no DNA dos organismos, como a confecção de teias nas aranhas. (pág. 36)

Mayr chama de “programas comportamentais abertos”, programas comportamentais que não são rígidos, mas deixam abertas diferentes possibilidades, como o imprinting em filhotes de gansos. (pág. 36)

No geral e certamente entre os vertebrados superiores houve uma tendência a substituir programas rigidamente fechados por programas abertos. (pág. 36)

Popper supõe que havia quatro estágios [...] evolutivos produzidos por seleção natural [...] o primeiro estágio é a evolução de dor e medo. (pág. 36)

O segundo estágio [...] a seleção natural levou à evolução de “comportamento de tentativa e erro imaginado ou substituto”. (pág. 36)

O terceiro, “a evolução de metas, ou fins, mais ou menos conscientes” (pág. 37)

Quarto estágio, encontrado até agora apenas em seres humanos, que é a evolução da linguagem. (pág. 37)

O conhecimento é “crença verdadeira justificada” (Johnson, 1988) [...] portanto crenças não existem a não ser em proposições. (pág. 38)

O problema aqui é um significado restrito demais tanto para crença quanto para verdade [...] Começar apenas com o conhecimento humano é distorcer a questão. Começar apenas com o conhecimento proposicional [...] e uma teoria correspondente que exclua a crença animal [...] é repetir o mesmo viés. (pág. 38/39)

Chomsky afirma que os seres humanos têm conhecimento inato e inconsciente da linguagem, em que o comportamento é meramente evidência do conhecimento e o conhecimento é uma estrutura mental no cérebro. (pág. 39)

O filósofo da linguagem Gilbert Ryle (1949) chamou a tentativa de reduzir todo o conhecimento como a conhecimento o quê de “lenda intelectualista”. (pág. 39)

Se admitirmos que os animais têm o saber como, parece ser outra lenda intelectualista negar que os animais tenham a capacidade do saber o quê. (pág. 39)

A principal diferença entre conhecimento científico e conhecimento em formas simples de vida como a ameba é que nós não morremos com nossas teorias. (pág. 40)

Uma declaração ou uma expectativa, é verdadeira para Popper se corresponde ao modo como o mundo exterior realmente é. (pág. 40)

No entanto, par Popper, ainda que naturalmente desejemos que nossas teorias sejam verdadeiras, na vida cotidiana, não menos que na ciência, nunca podemos saber quando elas são de fato verdadeiras. Tudo o que podemos saber é que, até aquele momento, elas sobreviveram a refutações. (pág. 40)

Podemos saber que a teoria x é falsa quando ela é reprovada em suas observações previstas ou testes. Nesse último caso, ela é apenas corroborada, e não confirmada ou verificada. (pág. 40)

Este é um freio salutar ao dogmatismo, como Popper sempre enfatizava. (pág. 40)

Um argumento indutivo é aquele em que a conclusão vai além das premissas. (pág. 40/41)

Um número finito, por maior que seja, quando dividido pelo infinito sempre resulta em zero. Assim, uma conclusão indutiva, ao contrario de nossas intuídos, devem sempre ter apoio zero. (Popper, 1963, 281) - (pág. 41)

O princípio da uniformidade da natureza não pode ser dedutivamente demonstrado como verdadeiro, uma vez que não há nenhuma contradição em pensar que o futuro não se assemelha ao passado. (pág. 41)

Como os argumentos indutivos usam como uma premissa o princípio da uniformidade da natureza, eles são circulares (pressupõem como certo precisamente aquilo que está em discussão) - (pág. 42)

Não chegamos indutivamente a teorias ou conclusões, mas começamos por elas e então as testamos em relação ao mundo. (pág. 42)

A indução pode, afinal, ser compatível com a epistemologia evolutiva. (pág. 42)

A premissa maior no raciocínio indutivo [...] poderia muito bem ser uma crença instintiva que evoluiu em nós e em outros animais por conferir uma vantagem seletiva em relação aos animais que não a tinham. (pág. 42)

Para Kant, nossa mente tem categorias estabelecidas dentro dela, categorias a priori (anteriores à experiência), que processam o que recebemos do mundo de maneiras específicas. (pág. 43)

Uma tautologia uma frase que é verdadeira simplesmente por causa do significado de suas palavras [...] a seleção natural não é apenas uma questão de palavras, mas um processo bem documentado que ocorre na natureza. (pág. 43)

Dário reuniu evidências de uma ampla variedade de áreas para argumentar em defesa do fato da evolução por seleção natural e contra o criacionismo, em um método hoje conhecido como inferência à melhor explicação.

O conhecimento é produto de dois fatores: um é o próprio mundo, outro são as categorias em nossa mente. (Kant) - (pág. 44)

Kant estava certo ao supor que teorias (categorias) são a priori, mas estava errado em considerá-las válidas e imutáveis. (pág. 44)

Um tema importante nos escritos de Popper é a dependência teórica da observação, que não existem observações neutras, que toda observação pressupõe um ponto de vista teórico. (pág. 44)

A variação em uma população é a norma, e não a uniformidade. (pág. 44)

Astrologia, teologia, marxismo, freudiano, muitos outros corpos de teoria não são ciências genuínas porque suas teorias não envolvem previsões falsificáveis. (pág. 45/46)

O que caracteriza o método empírico é a sua maneira de expor à falsificação, de todos os modos concebíveis, o sistema a ser testado. (pág. 45)

Há ainda hoje fortes evidências, ao contrário do que Darwin pensava,de que boa parte da variação é produto de puro e genuíno acaso. (pág. 47)

A evolução das espécies não se move em direção a nenhuma meta final. (pág. 48)

Os filósofos apresentaram uma tendência a ver proposições como entidades platônicas abstratas, existentes fora do espaço e do tempo. (pág. 49)

Um organismo que tem uma crença tem uma representação de algum aspecto de seu ambiente e essa representação é um padrão particular de atividade neuronal em seu cérebro. Assim como a dança do requebrado das abelhas é calibrada por seleção natural, também o são crenças. (pág. 49)

Com animais como os seres humanos, a questão é só mais complicada, mas não realmente diferente. (pág. 49)

A evolução é gradual e cumulativa (pág. 50)

Exaptação é o termo criado por Gold e Vrba (1932) para se referir a um traço que parece ter evoluído para uma função atual, quando, na realidade, evoluiu para alguma outra função e mais tarde foi mobilizado para a função atual. (pág. 51)

Os seres humanos autoenganam-se rotineiramente. (pág. 51)

O autoengano com frequência tem benefícios de sobrevivência, de modo que não devemos esperar que a seleção natural tivesse extirpado nosso autoengano instintivo. Por exemplo, quando deparamos com um perigo grande e repentino, o autoengano de que o perigo não é tão grande assim permite que pensemos depressa e reajamos de acordo, quando, caso contrário, poderíamos ficar paralisados de medo e inação. (pág. 51)

O autoengano comum a soldados de que não serão eles que vão morrer permite-lhes entrar no combate. (pág. 51/52)

O autoengano sobre a própria morte nas muitas formas de negação [...] reduz muito a ansiedade, o estresse e o efeito paralisante do medo, permitindo-nos realizar nossas rotinas diárias. (pág. 52)

Não deve nos surpreender, portanto, que a autoilusão na forma de crença religiosa [...] tenha uma penetração intercultural tão ampla. (pág. 52)

Pelo menos na superfície, deve ser evidente que o acaso governa todos os níveis da vida, da concepção à morte; no entanto, relativamente poucas pessoas parecem ter coragem de admitir esse fato perturbador e enfrentá-lo. (pág. 52)

Daí a crença difundida, desafiando toda a lógica e evidência, em astrologia, forças psíquicas e n poder da oração. (pág. 52)

Estereotipar não é totalmente ruim. Por exemplo, aqueles, em nosso passado evolutivo que deixaram de estereotipar tigres como carnívoros perigosos tenderam a acabar como sua próxima refeição. (pág. 53)

No entanto, o que é adaptativo em um ambiente pode ser mal-adaptativo em outro. (pág. 53)

A rapidez e a facilidade do instinto para estereotipar podem muitas vezes levar a enganos, como fica evidente no flagelo do racismo. (pág. 53)

Instinto de rebanho, nos seres humanos, o instinto de sentir-se parte de algo maior do que nós mesmos.

O instinto gregário é não só o instinto de ser parte de um grupo e segui-lo, mas também de deixar o grupo pensar por nós. (pág. 53)

A mentalidade gregária não poderia funcionar se não tivéssemos também uma credulidade subjacente e uma propensão a ser doutrinados. (pág. 53)

“Os homens preferem acreditar do que saber” – E. O. Wilson

O que é notável nos verdadeiros crentes é que cada um acha que pertence ao grupo que detém a verdade e repete os argumentos que lhe foram ensinados com a mais plena sinceridade, convicção e senso de justiça, nunca parecendo se dar conta de quanto têm em comum com os verdadeiros crentes de outros grupos. (pág. 54)

Quando a sorte do grupo muda para pior, sempre são procurados bodes expiatórios [...] boa parte do pensamento falacioso pode ter sua origem no instinto gregário. (pág. 54)

O pensamento de grupo sufoca o pensamento crítico [...] a crítica vinda de dentro é considerada um pecado [...] os críticos de fora são uma forma menos desprezível de inimigo. (pág. 54)

É preciso estar atento quando uma organização gosta de se chamar de “família” e, pior ainda, quando os membros chamam-se  entre si de “irmão” e “irmã” [...] Rótulos como esses fazem a pessoa se sentir bem quando os recebe, mas isso não elimina o fato de que são uma técnica importante de manipulação, tanto para conformidade quanto para exploração. (pág. 54/55)

O pensamento de grupo tem o potencial de causar enormes danos morais [...] todo exemplo de genocídio, como o holocausto nazista, é um exemplo de pensamento de grupo e instinto gregário em sua manifestação mais intensa. (pág. 55)

As convicções não só são maiores inimigas da verdade do que as mentiras, como também são, com frequência, o maior obstáculo ao progresso moral. (pág. 55)

Os instintos adaptativos não precisam ser produtores de verdade. (pág. 56)

Para os pós-modernistas, a distinção entre fato e ficção, verdade e falsidade, objetividade e subjetividade é uma ilusão. (pág. 56)

Para Jacques Derrida, a linguagem não pode captar adequadamente a realidade, textos são uma questão de interpretação e a linguagem, em certo sentido, cria a realidade. (pág. 57)

As teorias sociobiológicas são teorias de história e, como tal, compartilham uma série de critérios que as distinguem de contos e mitos do tipo “porque é assim”, como consistência interna, uma intenção declarada de ser factual e a disposição de testá-las em relação a evidências públicas disponíveis. (pág. 61)

Uma teoria é abandonada em favor de outra se esta proporciona uma explicação melhor. (pág. 62)

“É perfeitamente possível afirmar que os genes exercem uma influência estatística sobre o comportamento humano e, ao mesmo tempo, acreditar que essa influência pode ser modificada, anulada ou revertida por outras influências” – Darwin. (pág. 63)

Novas teorias na ciência, incluindo as que se revelaram teorias verdadeiras, não precisam ser resultado de nenhuma descoberta nova, mas podem ser resultado de examinar um problema difícil e aparentemente insolúvel de uma nova maneira. (pág. 63)

No caso do estabelecimento de quais espécies são mais aproximadamente reacionadas a nós do que outras, podemos hoje nos apoiar não só em aparência externa, mas na quantidade de DNA em comum. (pág. 65)

Um “Lanche Feliz” realmente contém a palavra “feliz”. (pág. 67)

Um argumento precisa ser avaliado com base nos méritos do próprio argumento. (pág. 67)

Os genes não são a única influência em nosso cérebro. (pág. 71)

2 – Evolução e consciência

Uma explicação científica requer que se recorra a pelo menos uma lei da natureza. (pág. 80)

Swnburne e outros afirmam com frequência que “é mais simples postular um Deus invisível” [...] Mas será mesmo? [...] O biólogo Richard Dawkins argumenta que o conceito de Deus não é de forma alguma simples, mas extraordinariamente complexo. Isso porque Deus não pode ser simples se precisa fazer todas as coisas que afirmam que ele faz, como criar e manter o universo e atender a orações. Quanto mais complexa uma entidade, porém, diz Dawkins, mais improvável ela é. Isso mão significa que Deus não exista, claro, mas significa que ele é o ser mais improvável de todos. (pág.82)

Não é mais consenso na filosofia da ciência que uma explicação científica precise recorrer a uma ou mais leis da natureza. (pág. 82)

A falácia conhecida como petição de princípio, a falácia de pressupor como certo precisamente o que está em discussão. (pág. 83)

Por um longo tempo, considerou-se que a vida fosse radicalmente diferente de tipos de coisas não vivas, que tivesse algo a mais, algo substancial, algum tipo de força ou substância vital. (pág.84)

A ciência vê claramente hoje que [...] A vida é simplesmente processos celulares e nada mais. (pág.84)

Qualquer traço (seja morfológico, mental ou comportamental) que exiba variação hereditária e adequação diferencial não aleatória está sujeito a evolução por seleção natural. É simples assim e a consciência parece exibir essas características. (pág.84/85)

Há muitas evidências que sugerem fortemente que a mente é o funcionamento do cérebro, ou é de alguma maneira produto do cérebro, ou, é simplesmente apenas o cérebro. (pág.86/87)

A evolução certamente não oferece nenhuma base para uma crença no dualismo de substância. (pág. 87)

Ludwig Wittegenstein [...]seus escritos sejam, na melhor das hipóteses, crípticos. (pág.87)

Os seres humanos têm um cérebro complicado e são equipados para sentir dor, e animais têm cérebros igualmente complicados e são similarmente equipados para sentir dor; seres humanos exibem comportamento de dor, e animais exibem comportamento de dor similar; seres humanos sentem dor conscientemente; portanto, é altamente provável que os animais também sintam dor conscientemente (e, claro, pelo mesmo raciocínio, é extremamente improvável que plantas sintam dor) - (pág.93)

Podem-se perceber vários tipos e graus de desenvolvimento visual existentes no presente, assim como é possível ver mamíferos em vários estágios de adaptação a um ambiente aquático. (pàg.94)

Supõe-se que os olhos evoluíram independentemente no reino animal pelo menos 40 vezes. [...] ter visão não é uma questão de sim ou não, mas de grau. (pág.94)

Qualquer traço que varie, seja hereditário e confira adequação diferencial não aleatória é um traço sujeito a evolução natural. (pág.95)

De acordo com Searle, a consciência encaixa-se perfeitamente em nosso entendimento moderno de física/química e de biologia evolutiva. Para Searle, a mente é uma macropropriedade do cérebro, mais ou menos como a liquidez é uma propriedade da molécula de H2O. (pág.95)

Para Frankfut, têm o que ele chama de desejos de primeira ordem, como o desejo de comida, de sexo ou de cigarro. Têm desejos de segunda ordem, desejos a respeito dos desejos de primeira ordem, como o desejo de parar de fumar. (pág.100)

Para Barlow, a consciência é uma adaptação de grupo e o seu “valor de sobrevivência” resulta dos “padrões específicos de comportamento social que ela nos leva a seguir” um dos quais é a moralidade social. (pág.102)

A dor é mais primitiva do que a linguagem, é mais primitiva do que grupos sociais; a maioria dos animais (sociais ou não) parece claramente equipada para a dor, exibe comportamento de dor. (pág.102)

A dor em si é crua e adaptativa. (pág.102)

Gerald Edelman distingue entre o que chama de consciência primária e consciência de ordem superior. (pág.102)

3 – Evolução e linguagem

Chomsky recusa-se a chamá-la de teoria [a hipótese do “minimalismo”], uma vez que lhe faltam evidências, e prefere chamá-la de programa de pesquisa. (pág.108)

Língua hopi, não tem tempo passado ou futuro nem palavra para unidade de tempo. (pág.120)

Apenas 10.000 anos depois da chegada desses homo sapiens, os hominídeos aborígenes, os Neandertals, foram tristemente extintos, tendo essa extinção começado no Oriente Médio e se completado na Europa. (pág.137)

Como diz Tattersall, “Diante do rápido desaparecimento dos Neandertals e do subsequente histórico assustador do homo sapien, podemos razoavelmente supor que... as interações [entre os dois] raramente foram felizes para os primeiros. (pág.137)

Falta de evidência não é evidência de uma falta. (pág.139)

Criacionistas do design inteligente pegam uma estrutura específica, como o sistema de coagulação sanguínea, e argumentam que ele é “irredutivelmente” complexo porque todas as partes do sistema são necessárias para o seu funcionamento e a falta de qualquer parte resultaria em um sistema que não funciona. No caso do sistema de coagulação sanguínea humano, demonstrou-se que isso é parcialmente falso pela observação de outras espécies com estágios intermediários em funcionamento. (pág.140)

4 – Evolução e sexo

Interculturalmente, a falta de confiança de paternidade nos homens resultou em uma série de e estratégias destinadas a aumentar a confiança, como cintos de castidade, haréns guardados por eunucos, leis contra o adultério feminino, violência doméstica contra a mulher e até assassinato. (pág.148)

De fato não há nada como a ciência para tirar a diversão de um encontro ou a alegria de um dia de casamento. (pág.153)

Nietzsche “a crença forte prova apenas a sua própria força, não a verdade daquilo em que se acredita”. (pág.158)

A ideia de que as mulheres querem ser estupradas é um mito, comprovado pelo fato de que a maioria esmagadora das vítimas de estupro relatou graus diversos de traumas produzidos pela experiência. (pág.160)

Duas teorias que procuram explicar a universalidade (ainda que de uma minoria universal) do comportamento e da atração homossexuais masculinos. (pág.166)

Wilson destaca que a homossexualidade é um universal humano e que o comportamento homossexual é comum no mundo animal, de insetos a mamíferos, nestes últimos com frequência como um “recurso de criação de vínculo”. (pág.167)

Wilson ressalta que homossexuais masculinos demonstram ter pontuações médias de QI mais altas do que heterossexuais masculinos. (pág.167)

Para Wilson, os genes da homossexualidade em humanos poderiam ter evoluído por meio de seleção de parentesco. (pág.168)

Apenas humanos, afinal, têm homossexualidade exclusiva (a homossexualidade em animais é bissexualidade) - (pág.169)

Hamer e Coperland, com base na escala de Kinsey, em que 0 indica a heterossexualidade exclusiva e 6 indica a homossexualidade exclusiva [...] a maioria dos homens está em um dos extremos da escala, enquanto as mulheres estão distribuídas por toda a escala. (pág.169)

Os homens tendem, em média, a permanecer razoavelmente na mesma ao longo da vida, enquanto as mulheres têm muito mais probabilidade de mudar. (pág.169)

As evidências sugerem que o lesbianismo é inteiramente cultural. (pág.170)

Há outras culturas, como os antigos gregos da Atenas de Péricles [...] Nessa cultura, apenas os homens eram cidadãos, os cidadãos tinham permissão para penetrar não cidadãos (escravos, crianças, mulheres, estrangeiros), mas não podiam ser penetrados por não cidadãos, e as relações homossexuais eram tipicamente assimétricas com relação à idade. (pág.172)

5 – Evolução e feminismo

Memética, segundo a qual as ideias adquirem vida própria e desenvolvem estratégias para a sua disseminação, de forma muito parecida com os vírus, tendo nosso cérebro como hospedeiro involuntário. (pág.181)

Podemos argumentar sobre o que deveria ser tanto quanto quisermos. Mas não devemos deixar que isso afete nosso entendimento do que é. (pág.184)

A experiência comunista, para citar um exemplo famoso, fracassou na União Soviética [...] Ela esteve, durante todo o tempo, apoiada em uma teoria errada sobre a natureza humana. (pág.185)

Se esse denominador comum for, em grande medida, biológico por meio de evolução, a experiência feminista tem chance zero, do mesmo modo que a experiência comunista. [...] leis que sejam mais duras para um gênero do que para o outro de acordo com a predisposição desse gênero para uma atividade social indesejada, leis que forcem igualdade de gêneros, leis que tentem contrabalançar diferenças inatas. (pág.185/186)

A teoria da seleção sexual ficou em descrédito por cerca de 100 anos. Mas, desde o final da década de 1970, ela conheceu um verdadeiro renascimento e é hoje uma teoria bem estabelecida na biologia moderna, com o número de evidências em seu favor tendo crescido de tal forma que o debate agora é só quanto aos detalhes. (pág.186/187)

Não há como dizer, afirma ela [Anne Fausto-Sterling], quais traços comportamentais são controlados por genes – sejam produto adaptativo de seleção natural ou mero produto de “eventos genéticos aleatórios” – e quais traços comportamentais são produto de comportamentos aprendidos que se tornaram comuns por meio da história compartilhada. (pág.187)

Se alguém quiser, poderia pegar o que Fausto-Sterling diz e aplicar a toda a evolução, da maneira como os criacionistas fazem. Mas, agindo assim, tudo o que se faz é satisfazer seu próprio plano determinado. (pág.187/188)

Um argumento é uma entidade que precisa ser julgada de acordo com critérios de aceitabilidade, relevância e suficiência das premissas. (pág.190)

Pensar que algo é assim (qualquer que seja o grau de convicção) não é conhecimento, e ciência não é apenas hipóteses e teorias. (pág.202)

O conhecimento genuíno não pode ser gerado simplesmente por diferentes maneiras de pensar. (pág.202)

O perigo de qualquer programa político que se vista de epistemologia, é que ele cria um campo fértil para “pensadores embusteiro que procuram apenas encontrar um argumento para apoiar alguma conclusão predefinida”. (pág.203)

Precisamos distinguir entre o que é chamado de “conhecimento” e o conhecimento. É a essência do relativismo moderno e do ceticismo conhecido como pós-modernismo negar essa distinção, e é a essência da ciência afirmá-la. Não pode haver um meio-termo. (pág.204)

“Durante a maior parte da história evolutiva, a especialização de gêneros foi simples: homens tinham de produzir, mulheres tinham de reproduzir” – Csikszentmihalyi - (pág.206)

Não se pode deixar de ver a divisão evolutiva mostrando suas cores, mesmo em pequenos experimentos culturais que tentaram eliminá-las. (pág.207)

Com a civilização veio também o método científico, um método (ou família de métodos) imensamente bem sucedido para adquirir conhecimento, tanto de nosso entorno como de nós mesmos. (pág.207)

6 – Evolução e raça

Empatia é o conceito que deve operar aqui. É preciso ter a capacidade de se imaginar, tão séria e plenamente quanto possível, no lugar daqueles que convivem com o racismo todos os dias. (pág.210)

Os olhos evoluíram pelo menos 40 vezes no reino animal. (pág.213)

A cor da pele não se relaciona com a geografia [...] a pele escura é um traço equatorial (não um traço africano), uma adaptação a níveis altos de UV [...] A pele clara, por outro lado, é uma adaptação a ambientes com níveis baixos de UV (pág.213)

Em tudo isso não há superior ou inferior, não há superioridade ou inferioridade moral [...] o mesmo se aplica a todos os traços que são tipicamente observados como características raciais [...] a estatura baixa e troncuda dos esquimós, por exemplo, é uma adaptação para minimizar a perda de calor, enquanto a constituição alta e esguia dos quenianos é uma adaptação para promover perda de calor. (pág.213)

A regra de uma gota de sangue é a pior forma de biologia, não se herda sangue, herdam-se genes. (pág.214)

Não faz sentido pensar que alguém obtenha seus genes dominantes de um dos pais e seus genes recessivos de outro. E faz ainda menos sentido pensar que qualquer raça tenha um monopólio de genes dominantes. (pág.214)

A ideia de que de fato existem raças humanas certamente precisa ser questionada e examinada com atenção. O interessante é que, dentro do campo da biologia evolutiva em décadas recentes, essa ideia não tem se saído bem. (pág. 215)

Para Ehrlich, o conceito de raça é meramente “uma base para estratificação social, domínio de um grupo sobre outro”. (pág. 219)

O Racismo tem uma lógica distorcida, mas parece ser um universal humano: todas as culturas estudadas parecem possuí-lo. (pág. 234)

Em geral, basta conhecer alguém de outra raça para perceber que nossa estereotipagem estava errada. Quaisquer que sejam nossas diferenças raciais, elas são insignificantes se comparadas a nossas similaridades. (pág. 236)

Uma dieta de carne requer cerca de dez vezes mais território que uma dieta vegetariana para obtenção da mesma quantidade de energia. (pág. 238)

“As guerras podem mudar, mas praticamente todas elas serão lutadas com o genocídio como uma motivação principal, embora não declarada”. (pág. 239)

A psique masculina humana parece compelida a categorizar outros homens como “nós” ou “eles” e a ser parcial no tocante ao “nós” e rotular o “eles” como inimigos”. (pág. 238)

7 – Evolução e ética

A falácia é-deve, que foi mencionada pela primeira vez por Hume e é com frequência considerada a mais importante redescoberta na ética do século XX, é a afirmação de que não se pode inferir logicamente uma conclusão moral a partir de premissas não morais. (pág. 243)

Vício e virtude, portanto, podem ser comparados a sons, cores, calor e frio, que, de acordo com a filosofia moderna, não são qualidades em objetos, mas percepções na mente. (pág. 245)

Os humanos são meramente uma das cerca de 30 milhões de espécies existentes e a maioria das espécies que já existiram está hoje extinta (qualquer que seja o conceito de espécie). Escolher uma única dessas espécies, os humanos, e dizer que eles têm direitos naturais, mas as outras não têm, é puro especismo. (pág. 243)

Pensamos comumente na ideia de direitos humanos naturais, inatos e iguais como um marco do pensamento ocidental. Mas ela não é encontrada nos dois principais pilares do pensamento ocidental: a filosofia grega e a bíblia. (pág. 248)

A ideia de direitos humanos naturais, inatos e iguais também não é encontrada na bíblia [...] a escravidão e a inferioridade das mulheres são ponto pacífico, Deus ordena a matança indiscriminada de homens, mulheres e crianças inocentes. [...] o apóstolo Paulo envia um escravo fugido de volta para o seu senhor e declara que os escravos devem obedecer a seus senhores e as esposas a seus maridos [...] afirma que deus predestinou alguns para a salvação e outros não. (pág. 249)

O paradoxo levantado por Platão: Deus (ou os deuses) diz que algo é bom porque esse algo é bom ou esse algo é bom porque Deus diz que ele é bom? (pág. 250)

A moralidade se torna arbitrária, uma vez que não depende de nada a não ser da vontade de Deus. (pág. 250)

A moralidade torna-se uma questão de culto do poder, pois nenhuma outra razão para aceitar a vontade de Deus é relevante exceto o fato de que Deus é todo-poderoso. (pág. 250)

A primeira alternativa, a moralidade torna-se separada da vontade de Deus, de modo que a moralidade fica autônoma em relação à religião. a religião não pode servir como base apropriada para a moralidade. (pág. 250)

Somos animais sociais. Mas também somos autodomesticados, e a domesticação às vezes resulta em diminuição ou mesmo em perda de instintos. (pág. 253)

A consciência olha para trás e julga e julga ações passadas, induzindo esse tipo de insatisfação que, se for fraco, chamamos de arrependimento, e se for forte, de remorso. (pág. 254)

O altruísmo, o genuíno comportamento de autossacrifício, não e algo misterioso ou divino, mas é explicado pela seleção e parentesco. (pág. 257)

Nenhum conjunto individual de padrões morais pode ser aplicado a todas as populações humanas. (pág. 259)

O que é mais plausivelmente inato, em vez disso, não são os deveres normativos específicos, mas (seguindo Hume) propensões simples e gerais como empatia, solidariedade, compaixão e instintos parentais. (pág. 262)

Thomas Nagel argumenta que “seria tão tolo procurar uma explicação evolutiva biológica para a ética como seria buscar tal explicação para o desenvolvimento da física” - (pág. 263)

A maioria das pessoas na maior parte do tempo não raciocina quando se comporta moralmente. Elas simplesmente seguem as normas de sua sociedade, muitas vezes combinadas com instintos como solidariedade. (pág. 265)

Peter Singer afirma que deveríamos nos tornar vegetarianos com base no fato de que vivemos em uma sociedade moderna e não precisamos comer carne, que comemos carne basicamente para satisfazer nosso paladar, que a indústria da carne causa enorme dor e sofrimento aos animais e que a maioria de nós acredita que causar dor, sofrimento e morte desnecessários é errado. Apesar de esse ser um bom argumento, possivelmente até um argumento sólido, muito poucas pessoas que são expostas a ele tornam-se vegetarianas. Quando lhes pedem justificativas, a maioria das pessoas geralmente oferece argumentos notavelmente fracos em defesa do status quo, se chegarem a oferecer alguma razão. (pág. 265)

Uma ação moral não requer necessariamente que existam razões. (pág. 265)

Se temos um instinto de objetivar a moralidade, de fazê-la parecer transcender nossos interesses pessoais, então deveres prescritivos, universais e categóricos são exatamente o que deveríamos esperar. Ainda assim, eles não deixariam de ser ilusões. (pág. 266)

A testabilidade é suficiente para que uma teoria seja científica, mas não necessária. (pág. 266)

O “um longo argumento” de Darwin na Origem, por exemplo, não foi uma questão de provar a evolução e refutar o criacionismo, mas antes de reunir tantas evidências de tantos lados quanto possível e mostrar que a evolução por seleção natural é a que faz mais sentido diante das evidências e que ela, e não o criacionismo, é a melhor explicação. (pág. 267)

Hume expressou no caso de religiões conflitantes, “todas elas, no geral, preparam um triunfo completo para o cético”. (pág. 267)

Papa da ética prática, Peter Singer. (pág. 268)

Os posicionados na esquerda política, em vez da evolução Darwiniana, seria mais interessante eles reconhecerem a natureza humana como produto de evolução por seleção natural e abandonarem seus sonhos utópicos de uma sociedade sem classes ou gêneros. (pág. 268)

Adotar o darwinismo não exclui a adoção de causas de luta pelos pobres, os oprimidos, os destruídos. Resulta em um entendimento melhor dos obstáculos e dos custos e pode levar aos meios mais eficazes para alcançar essas metas. (pág. 268)

O argumento de Singer, não se centra na maximização da felicidade, mas na minimização da infelicidade (dor). (pág. 269)

Causar dor, sofrimento e morte desnecessários é errado e que algo deve ser feito quanto a isso. (pág. 269)

Para Singer, nossa mente, nossa intuição nos dizem que a dor é ruim e deve ser evitada. Temos muito claramente um instinto para evitar a dor. A dor é sinal de um problema em nosso corpo. A capacidade de sentir dor e o instinto de evitá-la evoluíram nos animais por aumentarem a sobrevivência e a reprodução. (pág. 269)

A dor de forma alguma nos indica que ela é, em um sentido muito amplo, boa. (pág. 269)

A mesma dor que abominamos é a dor que nos ajuda a sobreviver e transmitir nossos genes. É a mesma dor que ajudou nossos ancestrais hominídeos a sobreviver, e seus ancestrais não hominídeos antes deles. A dor e a morte de números indizíveis de seres continuam a ser parte do aspecto criativo da evolução. (pág. 270)

Onde quer que colonos humanos tenham chegado, seguiu-se uma extinção em massa de espécies de grandes animais. (pág. 270)

A moralidade em humanos não é nem socialmente construída e primariamente racional, nem divinamente revelada, mas, em vez disso, tem um núcleo ou denominador comum que é produto de nosso passado evolutivo em grupos caçadores-coletores. A moralidade não é absoluta. (pág. 271)

8 – Evolução e religião

O mundo humano é repleto de religião. As religiões contam-se em muitos milhares. (pág. 274)

A única diferença real entre uma religião e um culto é o número de adeptos. (pág. 274)

Quase todos os humanos aderem a uma ou outra religião (ou culto). Quase todos os humanos acreditam que pertencem à mais verdadeira de todas as religiões. Muitos acreditam que apenas a sua religião é a verdadeira religião e que todas as outras religiões são falsas. (pág. 274)

Os humanos costumam investir tempo, energia e recursos materiais substanciais, e mesmo enormes nas práticas de sua religião e com frequência estão dispostos a sacrificar a própria vida por ela. (pág. 274)

Como a maioria dos humanos é religiosa em algum grau significativo, eles terão dificuldade para se afastar de sua própria posição e enxergar a questão  objetivamente. O fato é que, por um ponto de vista lógico, esses milhares de religiões não podem todos ser verdadeiros, uma vez que contradizem umas às outras em um número muito grande de questões factuais. (pág. 274)

A força da crença é algo psicológico e não elimina o fato de que “crentes verdadeiros” são encontrados em todas as religiões. Cada crente verdadeiro acha que possui evidências suficientes da verdade de suas crenças e que os crentes verdadeiros de outras religiões estão simplesmente mal-orientados ou iludidos. Os crentes verdadeiros não percebem quanto têm em comum com os crentes verdadeiros de outras religiões. Cada um tende a citar suas próprias escrituras, mas as escrituras de um não são mais logicamente convincentes que as escrituras do outro. (pág. 275)

A força da crença não oferece nenhuma evidência da verdade daquilo em que se acredita. (pág. 275)

A evolução por seleção natural não é específica de um domínio e se aplica não só à evolução biológica, mas também à evolução cultural. (pág. 275)

Meme: unidade de transmissão e seleção no domínio cultural. (pág. 275)

O sucesso de um meme ou complexo de memes em termos de disseminação para mais e mais mentes não precisa ter nada a ver com seu valor de verdade (em que verdade é entendido no sentido de correspondência com a realidade). - (pág. 277)

O meme Deus, o meme “ameaça do fogo do inferno” o meme “fé religiosa”. Por que esses memes difundiram-se tão facilmente  na história humana, como uma epidemia? - (pág. 275)

Quanto ao meme Deus, seu valor de sobrevivência seu poder de contágio reside em sua grande atratividade psicológica, as respostas que ele oferece para as questões perturbadoras do sentido da vida, o conforto que proporciona para a dor e as tragédias da vida e a esperança que oferece para a correção das muitas injustiças sofridas em vida. (pág. 278)

A religião humana começou como uma combinação de culto aos ancestrais e culto ao espírito da natureza. (pág. 278)

O monoteísmo evoluiu a ponto de suplantar o politeísmo não por causa de algum valor de verdade, mas simplesmente porque foi mais bem-sucedido em se disseminar de uma mente humana para outra. (pág. 278)

Muitos filósofos e cientistas afirmam que a religião produz mas mal do que bem. (pág. 278)

“Ameaça do fogo do inferno”, aparentemente uma mutação, causada pela mistura de ideias gregas e judaicas antigas sobre o mundo depois da morte. (pág. 279)

Fé religiosa significa “confiança cega, na ausência de evidências, mesm contra as evidências”. A fé cega pode justificar qualquer coisa. (pág. 279)

A condenação da razão humana por Martinho Lutero como uma “prostituta” e “a noiva do diabo”. (pág. 280)

Podemos observar, não só nas principais religiões, mas também em cultos, em que o raciocínio crítico direcionado à fé é com frequência considerado um grande pecado, às vezes até um pecado imperdoável. (pág. 280)

O islamismo pode ser de fato a religião de crescimento mais rápido no mundo, mas isso não precisa ter nada a ver com valor de verdade. (pág. 281)

A lei islâmica conta com pena de morte para muçulmanos que se converterem a outra religião enquanto força os pagãos  à escolha de converter-se ou morrer. Cristãos e judeus não são confrontados com essa escolha, mas são forçados, em vez disso, a pagar impostos especiais. (pág. 283)

A ciência como um todo, independentemente de sua história, tem uma unidade porque há apenas uma realidade e a principal força propulsora da ciência é a evidência da realidade. (pág. 283)

“Somos construídos como máquinas de genes e providos de cultura como máquinas de memes, n]ao temos o poder de nos voltar contra nossos criadores. Nós, e apenas nós na terra, podemos nos rebelar contra a tirania dos replicadores egoístas” - (pág. 284)

“As religiões são um bom exemplo de um mecanismo que reduz as diferenças dentro de grupos, ao mesmo tempo em que aumenta as diferenças entre grupos e as taxas de extinção de grupos” - (pág. 284/285)

Não vemos pessoas dispostas a se martirizar pela moda. (?) - (pág. 285)

Dawkins compara a religião ao fenômeno de mariposas voando para chamas de velas, o que não é um comportamento adaptativo, mas um subproduto muito prejudicial, um tiro no alvo errado, de sua adaptação de orientação pela luz. (pág. 286)

O instinto de religião poderia ter evoluído porque aumentava a coesão do grupo ou poderia ter evoluído por seleção individual, porque os indivíduos dentro de um grupo que tendiam a ser mais religiosos tendiam a se reproduzir mais, ou poderia ter evoluído como uma combinação de ambas. (pág. 287)

De acordo com Wilson, “a religião constitui o maior desafio para a sociobiologia humana” primeiro porque a religião é exclusiva da espécie humana e segundo porque seus mecanismos genéticos são escondidos da mente consciente. (pág. 287)

Conforme a ciência progrediu, a teologia perdeu terreno, cada vez mais abandonando os milagres, por exemplo, e colocando a ação de Deus fora do universo ou em algum lugar dentro de partículas subatômicas, até mesmo reconfigurando Deus como uma entidade imperfeita que evoluiu junto com o universo. (pág. 287)

Wilson afirmou “os homens preferem acreditar a saber” e “os seres humanos são absurdamente fáceis de ser doutrinados – eles procuram isso”. (pág. 288)

Não podemos deixar de notar a rapidez e facilidade com que as pessoas, em especial no estágio da infância, são doutrinadas em uma ideologia, o vigor com que abraçam a bandeira da justiça, com frequência a ponto de matar e ser morto, e sua enorme dificuldade para mudar. (pág. 288)

Grupos com uma frequência maior de genes de religião tenderão a competir com sucesso com aqueles que têm uma frequência menor. (pág. 289)

A seleção individual atuaria dentro do grupo, de forma que os indivíduos no grupo que são relativamente melhores para se conformar do que outros membros do grupo tenderiam a se reproduzir mais e, assim, transmitir seus genes com maior frequência, enquanto aqueles não tão bons em se conformar teriam mais dificuldade para se reproduzir e poderiam até mesmo sofrer ostracismo. (pág. 289)

Religião, política e moralidade evoluíram juntas como um pacote, de forma que sua divisão em campos diferentes é essencialmente conceitual, não genética. (pág. 290)

A natureza do pensamento e da prática religiosos é contrária à ciência e seu poder subjacente só serviria para destruí-la. (pág. 290)

Que os hormônios gonadais da religião não devem ser injetados no cérebro da ciência torna-se mais evidente quanto mais atentamente examinamos o instinto de religião. (pág. 291)

(Experiência)

- No experimento básico, cada indivíduo era informado de que o estudo seria sobre os efeitos do castigo sobre a memória e a aprendizagem.

- O painel de controle do “gerador de choques” tinha 30 botões , com inscrições variando de 15 volts a 450 volts e “choque leve” a “perigo – choque intenso”

- A finalidade do estudo era ver até onde as pessoas iriam contra sua própria consciência e sentimentos de compaixão e infringiriam dor a outros porque eram instruídos a fazer assim por alguém que consideravam uma autoridade.

- Tendo usado mais de mil sujeitos, ele encontrou que quase dois terços continuaram até o último choque do gerador.

(pág. 291)

Nascemos com um potencial para a obediência que, então, interage com a influência da sociedade para produzir o homem obediente. (pág. 292)

“A pessoa que entra em um sistema de autoridade não se vê mais atuando por seus próprios propósitos, mas passa a se ver como um agente para a execução dos desejos de outra pessoa”. Stanley Milgram - (pág. 292)

As implicações do instinto de obediência de Milgran para a religião são fáceis de perceber. De exemplos fortes como a Inquisição, a queima de mais de um milhão de mulheres como bruxas, as Cruzadas e os bombardeios suicidas/homicidas a exemplos mais banais como cerimônias de casamento, orações rituais e leis sobre dietas, a história da religião está repleta de obediência e autoridade. (pág. 293)

A religião é imensamente orientada para o grupo, com uma mentalidade intragrupo e extragrupo fortemente pronunciada. (pág. 293)

Como os humanos evoluíram em pequenos grupos caçadores-coletores, grupos com uma divisão de trabalho e líderes, se a evolução de um instinto de religião tiver ocorrido, a mentalidade de grupo teria de ser uma parte inextrincável dele, juntamente com a obediência a um líder. (pág. 293)

“Os custos de policiamento são substancialmente reduzidos em comunidades de indivíduos prudentes que acreditam que suas atividades são perfeitamente policiadas por seres sobrenaturais”. (pág. 294)

“Se acreditar em causação sobrenatural nos ajuda a recuperar-nos de doenças ou a enfrentar os terrores da vida, as tendências a cair em tais ilusões serão conservadas e mais intricadamente articuladas”. (pág. 294)

Convulsões nas regiões dos lobos temporais e parietais do cérebro, bem como estímulos elétricos e magnéticos nessas regiões, podem produzir experiências religiosas/místicas, como visões e experiências extra-corpóreas, mas, de modo geral, uma sensação de presença que as pessoas interpretam como Deus ou algum outro ser místico. (pág. 295/296)

“Falar de um gene ‘para’ alguma coisa significa apenas que uma mudança em um gene causa uma mudança nessa alguma coisa”. Dawkins - (pág. 291)

Dopamina deixa as pessoas “felizes, confiantes e otimistas”, de modo que alguém com mais dopamina “pode ter mais probabilidade de se por em ação e sair em busca de comida, construir abrigos e, acima de tudo, querer ter filhos”. (pág. 300)

A visão de que teologia e ciência são compatíveis não decorre do mero fato de algumas pessoas as terem combinado, mesmo algumas pessoas muito inteligentes. É preciso vencer a tentação de pensar que, porque alguém muito inteligente acredita em algo, então é legítimo acreditar nisso. Isso decorre do fato de que pessoas muito inteligentes costumam possuir crenças que se contradizem entre si. (pág. 302)

O espírito da teologia é profundamente incompatível com o espírito da ciência. (pág. 302)

“Puro aças, absolutamente livre, mas cego, na raiz mesma do estupendo edifício da evolução: este conceito central da biologia moderna não é mais uma entre outras hipóteses possíveis ou mesmo concebíveis. Ele é hoje a única hipótese concebível, a única que se ajusta ao fato observado e testado”. Jacques Monod - (pág. 303)

“Se a humanidade evoluiu pela seleção natural darwiniana, o acaso genético e a necessidade ambiental, e não Deus, criaram a espécie”. E. O. Wilson (pág. 303)

“Embora o ateísmo possa ter sido logicamente defensável antes de Darwin, Darwin tornou possível ser um ateísta intelectualmente satisfeito”. Richard Dawkins - (pág. 303)

“O universo que observamos tem precisamente as propriedades que esperaríamos se não houver, afinal, nenhum desígnio, nenhum propósito, nenhum mal e nenhum bem, nada além de indiferença cega e implacável”. (pág. 303)

A porcentagem cai significativamente conforme aumenta o grau de instrução e de realizações, de modo que, no nível da elite,representada pelos cerca de 1800 membros da National Academy of Sciences, a porcentagem de crença fica um pouco abaixo de 10%, com os biólogos apresentando a porcentagem mais baixa (5,5%) e os matemáticos a porcentagem mais alta (14,3%) - (pág. 303)

Desde Darwin, foi-se o tempo em que lacunas na biologia precisavam ser preenchidas recorrendo a Deus. (pág. 304)

A primeira coisa que me chama atenção em tudo isso é a rapidez com que os críticos da evolução ateísta descartam-na com o rótulo de “filosófica”, como se a filosofia fosse o equivalente intelectual da pintura a dedo. (pág. 304)

Não se pode tentar estabelecer uma questão empírica simplesmente definindo seus próprios termos de uma maneira que estabeleça a questão a seu favor. (pág. 305)

Ciência como inferência à melhor explicação, a inferência à melhor explicação não só requer teorias concorrentes, como utiliza explicação contrastiva para explicar. (pág. 306)

Ao argumentar a favor da evolução por seleção natural, Darwin estava argumentando também contra o criacionismo (e contra o evolucionismo lamarckiano), mostrando por que este último não era uma boa explicação para as evidências. (pág. 306)

A inclusão na ciência genuína não é uma questão de sim ou não, mas de grau. [...] Em geral incluem simplicidade, testabilidade, objetividade, consistência, consiliência e produtividade. (pág. 306)

Sua teoria não era consistente apenas internamente, mas também com, por exemplo, os últimos avanços da geologia; consiliência no sentido de que sua teoria utilizou e, por sua vez, explicou uma ampla variedade de fatos, como os encontrados na geologia, paleontologia, biogeografia, anatomia comparada, embriologia, etologia, criação de animais domésticos e taxonomia. (pág. 306/307)

Um criacionista pode, com alguma plausibilidade, fazer reparos a cada um dos campos de evidência de Darwin considerados individualmente, mas essa plausibilidade desaparece quando esses campos são vistos coletivamente. (pág. 307)

No tocante a valores epistêmicos, o criacionismo pontua muito baixo. (pág. 307)

A evolução ateísta não é mera filosofia, mas se encaixa perfeitamente nesse conceito expandido e totalmente moderno de ciência genuína. A evolução ateísta é simples (ela é completamente realista e não envolve nada sobrenatural), é objetiva (não é o que alguém quer acreditar), é internamente consistente e externamente consistente com o que é conhecido em outras ciências (como física e química, que também compartilham o naturalismo metodológico), é conciliente (isso é o que faz dela um ácido universal) e é produtiva (levou à memética, por exemplo). (pág. 307)

Nem toda teoria genuinamente científica é testável, a evolução ateísta é testável. Apenas no nível genético seria possível conceber observações que a refutariam, como um fragmento de sequências de DNA que seria ridículo explicar pelo acaso ou por seleção natural. (pág. 307)

A evolução ateísta é inferência à melhor explicação na sua melhor forma. (pág. 307)

Poderia a religião restringir-se apenas a questões morais e ao sentido da vida? Não as religiões no sentido prático. (pág. 308)

A evolução é altamente relevante para o tema da moralidade. (pág. 309)

Mesmo pessoas religiosas não usam a religião como o alicerce de suas crenças morais. (pág. 309)

A religião não pode ser a fundação da moralidade. (pág. 309)

Ian Barbour, professor de física e teólogo talentoso, reconhece que “seria grosseiramente antropocêntrico pressupor que nós sejamos a meta e o único proposto da criação”. (pág. 310)

A crença de que Deus virou os dados a nosso favor está muito distante da natureza de contingência encontrada na teoria evolucionista moderna. Pensar de outra forma é compartilhar a ilusão típica de ganhadores da loteria. (pág. 311)

Os biólogos evolucionistas teístas tendem a se ver envolvidos no que meu falecido mestre em biologia Robert Haynes chamou de esquizofrenia intelectual, algo semelhante ao duplipensar de Orwell. Talvez o melhor exemplo disso seja o geneticista (pág. 310)Theodosius Dobzhansky. (pág. 312)

“Eu não duvido de que, em algum nível, a evolução, como tudo o mais no mundo, seja uma manifestação da atividade de Deus. Tudo o que posso dizer é que, como cientista, não observo nada que prove isso. Em suma, como cientistas, Laplace e eu “não temos necessidade dessa hipótese”, mas como ser humano, eu preciso dessa hpótese!” – Dobzhansky - (pág. 312/313)

Em tudo isso é difícil ver algo além de autoilusão. (pág. 313)

Não se deve deixar o que se acha que deveria ser o caso obscurecer o julgamento sobre o que se acha que é de fato o caso. Rejeitamos esse modo de pensar em tribunais de justiça e em outras áreas de interesse prático. Por que deveria de repente tornar-se aceitável quando nos voltamos para questões maiores, como Deus e evolução? - (pág. 313)

Papa João Paulo II, chama a evolução de um “desabrochar de matéria viva”. Chamar a história da evolução de um “desabrochar” indica um entendimento ruim da evolução. (pág. 313)

“Quando eu vejo todos os seres, não como criações especiais, mas como os descendentes lineares de alguns poucos seres que viveram muito antes de a primeira camada do sistema siluriano ter sido depositada, eles me parecem se tornar enobrecidos”. Darwin - (pág. 314)

Essa, parece-me, é uma visão de mundo elevada, sem a qual nenhuma pessoa moderna poderia ser considerada plenamente civilizada. Pensar de outra forma é especismo, um preconceito que sempre esteve no núcleo da teologia criacionista do ocidente. (pág. 314)

Se alguma coisa caracteriza a ciência moderna, é que suas explicações vêm de baixo, não de cima. Foi isso que a tornou tão bem-sucedida. Explicações de baixo são testáveis, explicações de cima não são. E explicações de cima não se mostraram sequer necessárias. (pág. 314/315)

Os biólogos evolucionistas modernos costumam chamar a evolução de um “fato”, não de uma “teoria” (pelo menos quando não estamos lecionando para estudantes universitários que tendem a se incomodar facilmente), e pela melhor das razões: as evidências da evolução são tão esmagadoras que estão na mesma categoria do fato de que a terra é esférica e gira em torno do Sol, o qual começou como uma hipótese, graduou-se para uma teoria e é hoje um fato. (pág. 315)

Um princípio fundamental da biologia evolutiva, desde Darwin, é que qualquer traço que exiba variação herdável é um candidato à evolução por seleção natural. Como os traços mentais exibem variação herdável, eles não estão menos sujeitos à explicação evolutiva do que os traços físicos. (pág. 315)

Depois de um longo acúmulo de evidências, experiências e reflexões penetrantes, a conclusão a que foram forçados os físicos desde pelo menos duas décadas e meia atrás é que não há variáveis ocultas escondendo o determinismo por trás das leis estatísticas da física quântica. (pág. 317)

O problema é que eles nem sequer parece estar fazendo asserções genuínas. Uma asserção genuína implica logicamente uma classe de outras asserções contraditórias à asserção original. (pág. 318)

Flew afirma, “se se pretende dizer algo que seja tanto relevante como substancial, é preciso pagar o preço correspondente. Se não houver nada que uma asserção putativa negue, então também não há nada que ela afirme: e, portanto, ela não é de fato uma asserção” Desafio falsificacionista. (pág. 318)

O que teria de ocorrer ou de ter ocorrido para constituir para você uma refutação da evolução influenciada por Deus, ou pelo menos uma forte evidência contra ela? Nesse ponto, a evolução teísta mantém-se completamente em silêncio. (pág. 318)

Os evolucionistas teístas têm de se perguntar por que, afinal, há mutações. Se um deus eficiente e beneficente estivesse dirigindo as mutações, ele produziria, se quisesse criar por meio de evolução, apenas as mutações vantajosas. (pág. 320)

Muitas micromutações conseguem passar e fazer uma diferença, que, junto com macromutações variam em efeito negativo de leve a dolorosamente letal. (pág. 321)

Diante de todos esses fatos terríveis e inúmeros outros do mesmo tipo, é de se perguntar por que um sistema genético, se tivesse evoluído por intermédio de uma mente racional e benevolente, seria tão negativamente mutacional quando um sistema muito mais racional e benévolo poderia ter sido produzido. (pág. 321)

Se Deus existe (em que “Deus” significa o criador onisciente, amoroso e todo-poderoso do universo), não deveria existir o mal. O mal existe. Portanto, não há Deus (ou pelo menos um dos seus atributos tem de ser abandonado, o que, para alguns, poderia significar que não há Deus do mesmo jeito). - (pág. 321)

A biologia evolutiva não criou o problema do mal, mas se a evolução for considerada o modo de criação de Deus, o problema do mal acentua-se e a evolução teísta precisa oferecer uma resposta especial para ele. (pág. 321)

Para Darwin, a evolução dirigida por Deus não combinava com a enorme dor, sofrimento e morte que são necessariamente parte do próprio tecido da natureza em uma perspectiva evolucionista. (pág. 322)

"não consigo me convencer de que um Deus beneficente e onipotente teria criado por desígnio os Ichneumonidae com a intenção expressa de se alimentarem dentro do corpo vivo de lagartas, ou que um gato devesse brincar com camundongos”. Darwin - (pág. 322)

Para Williams, a imagem romântica da beleza da natureza é uma ilusão. Por trás do véu está a feia realidade de enorme sofrimento causado por mutação, doença, fome e extremos de temperatura. (pág. 323)

Willams discute em detalhes inúmeros casos documentados na natureza de incesto, adultério, estupro, canibalismo, infanticídio e predação inútil [...] or exemplo, entre os macacos langur, do norte da Índia, quando um macho usurpa um harém e consegue matar o filhote lactente de uma mãe, esta imediatamente entra no cio e aceita os avanços sexuais do matador de seu bebê. (pág. 323)

A natureza na visão de Williams é não só moralmente indiferente, mas é culpada de crua imoralidade. (pág. 323)

Antes de Williams ser acusado de cometer um erro gritante aqui, de atribuir o mal a algo não pessoal, é preciso apenas lembrar que os teólogos há muito fizeram uma distinção entre o que eles chamam de mal natural e mal moral, em que apenas este último é obra do homem. Além disso, a ideia de que algo não pessoal possa ser imoral ou mau pressupõe uma teoria moral que conecte culpa e motivo. Em uma perspectiva utilitária, por outro lado, ou seja, uma teoria da moralidade baseada não em motivos, mas puramente em consequências em termos de felicidade, a natureza pode de fato ser má. Não é tão óbvio, portanto, que Williams esteja errado quando caracteriza a natureza, incluindo a evolução por seleção natural, como má. (pág. 323)

Williams também gosta de dizer que a natureza é “abismalmente estúpida” e uma “tola insensata”, em razão dos muitos exemplos de designs ruins na natureza [...] ele também vê a natureza como um “inimigo persistente e poderoso”. O propósito da moralidade não é fugir da natureza, muito menos imitá-la, mas rebelar-se e lutar contra ela. (pág. 323)

Williams define “Deus” como “qualquer entidade ou complexo de entidades que é responsável pelo fato de o universo ser como nós o encontramos e não de algum outro jeito, ou nem sequer existir” - (pág. 324)

“Você ainda acha que Deus é bom?”. G.C.Williams - (pág. 324)

“Vidas são geradas e destruídas em uma enorme loteria impessoal de tentativa e erro genéticos. Esse processo pode parecer muito acidental, muito dispendioso e muito cruel para ser obra de um Deus que possui conhecimento, poder e bondade perfeitos”. Thomas Tracy [Biólogo teista] - (pág. 324)

Há vários problemas na solução de Tracy [...] por que não aceitar, como Walter Kaufman, que “o homem é um macaco que quer ser deus”. (pág. 325)

Como tantos outros que oferecem uma teodiceia, Tracy não tem uma visão plena da enormidade do sofrimento no mundo animal. (pág. 325/326)

Nenhum bem, por mais “elevado” que seja considerado, vale o custo, ou é de fato bom, se for comprado pelo preço de seres sencientes terem a carne arrancada de seu corpo vivo durante o ato da predação. (pág. 326)

Para os cristãos, tudo se resume a “confiar na bondade de Deus” [...] A questão, portanto, é se o que sabemos sobre a evolução nos dá alguma razão para tal confiança. A resposta é claramente Não. (pág. 325)

Neste capítulo, vimos os princípios evolutivos aplicados à religião no nível de memes, depois no nível de instintos e, por fim, na tentativa de harmonizar evolução e teologia, tudo com resultados devastadores. O que torna isso especialmente devastador é que, para a maioria das pessoas deste planeta, o sentido da vida é encontrado, em última instância, na religião. (pág. 325)

9 – Evolução e o sentido da vida

A melhor definição de filosofia que já vi é que a filosofia tenta responder de uma maneira sistemática e completa à pergunta “O que é x?”,em que x representa conceitos fundamentais. (pág. 328)

Seria possível naturalmente supor que a biologia evolutiva em particular e a ciência moderna em geral, quando consideradas puras, impliquem a visão de que não há de fato um sentido para a vida. (pág. 329)

E não adianta tentar achar sentido tentando encontrar Deus ou vida após a morte na ciência, pois a ciência também não nos dá isso. (pág. 329)

As evidências putativas de vida depois da morte são extremamente pobres. (pág. 329)

Todas as evidências científicas concretas apontam para a conclusão de que a morte é, de alguma maneira, produto da evolução do cérebro e não pode existir sem ele. (pág. 329)

Não há nenhuma evidência extraordinária para a vida após amorte que sobreviva a um exame atento. (pág. 329)

A teoria do design inteligente na física, o argumento derivado do aparente ajuste fino das constantes cósmicas, não é exatamente um caso da ciência apontando para a existência de Deus, já que a minoria de físicos que adere a essa teoria já estava convencida da existência de Deus antecipadamente, mas, mais importante, há explicações muito mais simples que o aparente ajuste fino, que não envolvem a presença de uma mente. (pág. 329)

Huxley afirma que, embora não haja nenhum propósito ou sentido “inerente no universo ou em nossa existência”, é possível, ainda assim, “encontrar um”. De fato uma vida válida e com propósito não só é possível, como é mais possível do que nunca, graças à ciência. (pág. 330)

“o propósito deliberado pôde substituir a peneira cega da seleção; a mudança pôde ser acelerada dez mim vezes. No homem, a evolução pôde tornar-se consciente”. Huxley - (pág. 330)

Mas muita coisa mudou desde 1939, as pessoas hoje estão mais assustadas do que nunca com a tecnologia que se desenvolveu da ciência. (pág. 330)

A crença no progresso evolutivo é antropocêntrica e, assim, arbitrária. (pág. 330)

Em termos da capacidade de se adaptar, por exemplo, a família de vírus HIV, derrota não só a nós como a qualquer outro. (pág. 331)

Muitos ecologistas veem a espécie humana não como o ápice do progresso evolutivo, mas como um crescimento canceroso ou parasitário, que está destruindo seu hospedeiro, a biosfera. (pág. 331)

Provine argumenta que a Síntese Moderna, que marca a maturidade da biologia como ciência, criou um conflito inevitável entre ciência e religião, o qual a religião não tem como vencer. (pág. 331)

“restam muito poucos biólogos evolucionistas verdadeiramente religiosos. A maioria são ateus, e muitos foram levados a isso por seu entendimento do processo evolutivo e de outras ciências”. Provine - (pág. 331)

Quanto aos cientistas que afirmam que evolução e religião são compatíveis, Provine desconfia de “desonestidade intelectual” [...] O que está por trás de tudo isso, diz Provine, é política motivada pelo medo da reação pública se a verdade for dita. (pág. 331)

Provine credita que “os humanos podem ter uma vida significativa”, uma vida “cheia de sentido”. (pág. 332)

Tenho profundas ressalvas quanto a parte disso [...] Não se pode simplesmente sair usando termos como “comportar-se bem” e “desenvolvimento moral”, como Provine faz, como se todos soubessem e concordassem com o que eles significam. (pág. 332)

De alguma maneira, cerca de 4 bilhões de anos atrás, algumas moléculas primitivas começaram a fazer cópias toscas de si mesmas. Imediatamente, a seleção natural entrou em ação, favorecendo algumas dessas moléculas primitivas em relação a outras, já que algumas eram naturalmente mais adequadas para se replicar fielmente do que outras. Por fim, alguns desses “genes nus” uniram-se a outros genes em  “complexos de genes” e teve início a evolução de fenótipos simples e, depois, cada vez mais complexos, pois os fenótipos aumentavam sua sobrevivência e reprodução. (pág. 333)

“Nós, humanos, temos os propósito no cérebro” O problema não são as evidências de propósito e significado, mas uma propensão psicológica a projetá-las no mundo. (pág. 334)

Diz Dawkins, o mero fato de podermos fazer uma pergunta – neste caso, “Qual é o sentido ou propósito disto?” – não significa que tenha de haver uma resposta. (pág. 334)

O argumento do designio teve uma interrupção com Darwin. (pág. 334/335)

A função de utilidade de algo é aquilo que está sendo maximizado. Engenharia reversa é o oposto. (pág. 335)

“tudo faz sentido” diz Dawkins “quando se considera que a sobrevivência do DNA é o que está sendo maximizado”. (pág. 335)

“Os genes não se importam com o sofrimento”, diz Dawkins, “porque eles não se importam com nada”. (pág. 335)

O horror da predação, o sofrimento do parasitismo, bem como a angústia de coenças como o câncer decorrem com igual certeza simplesmente da natureza de competição, mutação, genes egoístas e seleção natural. (pág. 336)

Os processos de evolução fizeram evoluir em nós os mecanismos para sensibilidade à dor, mas não mecanismos para saber quando parar. (pág. 336)

Ser queimado até a morte deve doer loucamente, embora não devesse, e não seria assim se tivesse sido projetado inteligentemente. (pág. 336)

Para Dawkins, “O universo que observamos tem precisamente as propriedades que esperaríamos se não houver, afinal, nenhum desígnio, nenhum propósito, nenhum mal e nenhum bem, nada além de indiferença cega e implacável”. (pág. 336/337)

Carl Sagan: A genuína espiritualidade não requer de forma alguma o sobrenatural. (pág. 338)

Jean-Paul Sartre: A existência precede a essência. (pág. 338)

“existencialismo evolutivo” é um oximoro. (pág. 339)

Pensar nos humanos como meta é puro antropocentrismo. Somos meramente uma dos cerca  de 30 milhões de espécies existentes e a vida continuará evoluindo em uma miríade de direções sem nós. (pág. 339)

“essa [os 4 bilhões de anos de espetáculo da evolução na Terra] é uma história contada por um idiota [mutação e seleção natural], cheia de som e fúria [biodiversidade], que não significa nada [morte e extinção eterna]. (pág. 339)

Para Darwin, a seleção natural opera primariamente no nível do organismo individual, raramente no nível do grupo e nunca para o bem da espécie. (pág. 341)

Desde Darwin, a ideia de que uma espécie tem uma essência está morta. (pág. 342)

Biólogos evolucionistas defendem a rebelião contra nossos genes aqui e ali, mas continua havendo algo fundamentalmente diferente do tipo de rebelião que se costuma encontrar no existencialismo. (pág. 344)

“Para que uma vida tenha sentido, ela precisa conectar-se com outras coisas, com algumas coisas ou valores além de si mesma. O sentido, e não apenas de vidas, parece estar nessas conexões”. Robert Nozick - (pág. 345)

Encontrar sentido em relações pessoais teria de incluir a ética prática. (pág. 347)

Na filosofia há uma tradição, que remonta a Platão e Aristóteles, que afirma que o pensamento racional e a contemplação são as mais elevadas atividades humanas. A ciência moderna desenvolveu-se da filosofia como uma série de especializações separadas e, talvez mais que a filosofia, a ciência leva-nos ao universo. (pág. 348)

Mesmo que a física esteja certa e o universo em geral não tenha um sentido, disso não decorre necessariamente que uma de suas partes, a vida em geral, também não tenha sentido. E, mesmo que a biologia evolutiva esteja certa e a vida em geral não tenha um sentido, disso não decorre necessariamente que uma de suas partes, a minha vida ou a sua, não tenha um sentido. Apesar das verdades da evolução e da física, cada um de nós pode ainda ter uma vida profundamente significativa. (pág. 349)

Apêndice: Equívocos comuns sobre a evolução

O conjunto de conhecimento, pesquisas e teorias conhecido como biologia evolutiva é uma das maiores e mais importantes realizações da ciência moderna. (pág. 352)

Como a vida se originou, em primeiro lugar, é uma coisa; como a vida evoluiu depois de ter começado é outra bem diferente. (pág. 353)

Não há necessidade de recorrer ao sobrenatural quando explicações naturais, que por sua própria natureza são mais simples, funcionam igualmente bem. (pág. 353)

De algum modo, possivelmente mais de uma vez, foi formada uma molécula que reproduziu naturalmente uma cópia grosseira de si mesma, talvez algo semelhante a como os criatais se formam. A partir desse humilde começo, algumas das moléculas descendentes reproduziram-se melhor do que outras, de modo que o processo de seleção natural teve início, resultando em uma complexidade cada vez maior. (pág. 353)

O mundo da ciência profissional é uma comunidade mundial, composta de centenas de milhares das pessoas mais instruídas e inteligentes do planeta, pessoas que estudaram os fenômenos, evidências e conhecimentos relevantes em seus respectivos campos em um grau que o público em geral mal pode imaginar. Dentro dessa comunidade – e essa é a única comunidade que realmente conta - , a evolução deixou de ser debatida há muito tempo. (pág. 354)

Se quisermos ser filosóficos a esse respeito, nada (nem mesmo o famoso “penso, logo existo” de Descartes) pode ser provado além de qualquer sombra de dúvida. (pág. 355)

A ideia de que as espécies biológicas não são fixas, mas evoluem começou como uma hipótese (uma vez mais, de alguns gregos antigos), foi elevada mais tarde para o nível de teoria e, por fim, subiu para o nível de fato (apesar do Instituto de Pesquisa da Criação). (pág. 355)

Há exemplos de mudança evolutiva que podemos observar diretamente bem diante de nossos olhos. Um deles é a evolução da resistência de bactérias a antibióticos como a penicilina. [...] assim como a evolução de vários vírus. (pág. 356)

A evolução por seleção natural é um processo cumulativo, não algo que acontece de uma só vez. (pág. 360)

Comentários

  1. Divina:
    Parabés pela iniciativa. Você faz um excelente trabalho, não só para você, para referências futuras, mas para todos os que desejam consultar ou comprar uma obra e não têm muitas referências. Sinopses de editoras pu de páginas da internet não são suficientes para avaliar um livro.
    Seu trabalho é uma mão na roda para os preguiçosos e os sem tempo. Continue! Talvez você esteja inaugurando um (gênero?), uma (técnica de leitura), uma (técnica de aprendizado?).
    Não sei o que é, mas sei que acabade inaugurar uma coisa nova - e útil.
    Abraços do amigo virtual
    Ivo S. G. Reis

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