INTRODUÇÃO À LITERATURA FANTÁSTICA - Tzvetan Todorov
Explicação: Já li alguns livros na vida. Tenho o hábito de ler livros com uma caneta na mão. Depois de sublinhar o que me chama a atenção no livro, isso quando posso, digito os trechos grifados num fichamento que, até hoje esteve guardado com a intenção de ser apenas um material para a provável (ou não) necessidade de fazer uma revisão. Resolvi publicar esses fichamentos porque podem ser úteis para alguém. São palavras dos outros, mas são minhas porque fui eu quem as selecionou; e o fiz com base no meu próprio julgamento.
INTRODUÇÃO À LITERATURA FANTÁSTICA
TODOROV, Tzvetan – Introdução à literatura fantástica. Perspectiva. São Paulo.
1992
—
A expressão
“literatura fantástica” refere-se
... a um gênero literário. (p.7)
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... a quantidade das observações não é pertinente, mas
unicamente a coerência lógica da teoria. (p.8)
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Pode-se muito bem gostar de uma obra por tal ou qual razão;
não é isso que a define como objeto de estudo. (p.10)
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... não reconhecemos a um texto o direito de figurar na
História da Literatura ou na da Ciência, a não se que acarrete alguma mudança à
idéia que se fazia até então de uma ou outra atividade. ... apenas a literatura
da massa ... deveria justificar a noção de gênero; esta seria inaplicável aos
textos propriamente literários. (p.10/11)
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... um texto não é somente o produto de uma combinatória
preexistente ... é também uma transformação desta combinatória. (p.11)
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... todo estudo da literatura partirá, ... deste duplo
movimento: da obra em direção à literatura (ou ao gênero), e da literatura (do
gênero) em direção à obra; (p.11)
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... nossa formulação do caráter específico de um texto
torna-se automaticamente a descrição de um gênero, cuja particularidade seria a
de que a obra em questão fosse seu primeiro e único exemplo. (p.11)
—
“O discurso literário se produz e se desenvolve segundo
estruturas que só pode realmente transgredir porque as encontra, ainda hoje, no
campo de sua linguagem e de sua escritura” (p.12)
—
Devem-se praticar os estudos literários com a mesma
seriedade, o mesmo rigor que testemunhamos nas outras ciências. (p.13)
—
A obra literária, como a literatura em geral, forma um
sistema; nela nada é devido ao acaso. (p.14)
—
É preciso distinguir a sincronia da diacronia: (p.14)
—
“A literatura, como a
matemática, é uma linguagem, e uma linguagem em si mesma não representa
qualquer verdade, ainda que possa fornecer o meio de exprimir um número
ilimitado de verdades” (p.14)
—
... A literatura não extrai suas formas senão dela mesma”
... “Tudo o que é novo em literatura é o velho reinventado (p.15)
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Toda teoria dos gêneros assenta-se numa representação da
obra literária. É preciso então começar por apresentar nosso próprio ponto de
partida, mesmo que o trabalho ulterior nos leve a abandoná-lo. (p. 24)
—
Uma escolha preliminar se impõe quanto ao próprio nível em
que se vá situar as estruturas literárias. Decidimos considerar todos os
elementos imediatamente observáveis do universo literário como a manifestação
de uma estrutura abstrata e desnivelada, produto de uma elaboração, e procurar
a organização só a este nível. Opera-se aqui uma clivagem fundamental. (p. 25)
—
O conceito de gênero deve ser matizado e qualificado.
Opusemos, por um lado, gêneros históricos e gêneros teóricos: Os primeiros são
os frutos da observação dos fatos literários; os segundos são deduzidos de uma
teoria da literatura. Por outro lado, fizemos uma distinção, no interior dos
gêneros teóricos, entre gêneros elementares e complexos: os primeiros se
caracterizam pela presença ou ausência de uma conjunção destes traços. Evidentemente
os gêneros históricos são um subconjunto do conjunto dos gêneros teóricos
complexos. (p. 25)
—
A definição dos gêneros será então um vi e vem contínuo
entre a descrição dos fatos e a teoria em sua abstração. (p. 26)
—
... a crítica tende sempre a se tornar ela mesma literatura:
(p. 27)
—
O fantástico é a hesitação experimentada por um ser que só
conhece as leis naturais, face a um acontecimento aparentemente sobrenatural.
(p. 31)
—
A hesitação do
leitor é, pois a primeira condição do fantástico. Mas será necessário que o
leitor se identifique com uma personagem particular, como em “Le Diable
Amoureux” e no “Manuscrit” ? Ou seja, será necessário que a representação seja representada no interior da obra? A
maior parte das obras que preenchem a primeira condição satisfazem igualmente a
Segunda; existem todavia excessões: assim em “Vera”, de Villers de l’Isle-Adam.
O leitor nesse caso se interroga sobre a ressurreição da mulher do conde,
fenômeno que contradiz as leis da natureza, mas parece confirmado por uma série
de indícios secundários. Ora, nenhum personagem compartilha essa hesitação: nem
o conde d’Athol, que crê firmemente na Segunda vida de Véra, nem mesmo o velho
servidor Raymond. O leitor não se identifica pois com qualquer personagem, e a
hesitação não está representada no texto. Diremos que se trata, com esta regra
de identificação, de uma condição facultativa do fantástico: este pode existir
sem satisfazê-la; mas a maior parte das obras fantásticas submete-se a ela. (p.
37)
—
Existem narrativas que contêm elementos sobrenaturais sem
que o leitor jamais se interrogue sobre sua natureza, sabendo perfeitamente que
não deve tomá-los ao pé da letra. (p. 38)
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... definição do fantástico. Este exige que três condições
sejam preenchidas. Primeiro é preciso que o texto obrigue o leitor ... a
hesitar entre uma explicação natural e uma explicação sobrenatural ... A seguir
esta hesitação pode ser igualmente experimentada por uma personagem; ... Enfim,
é importante que o leitor adote uma certa atitude para com o texto: ... Estas
três exigências não têm valor igual. A primeira e a terceira constituem
verdadeiramente o gênero; a Segunda pode não ser satisfeita. (p. 38/39)
—
Para Lovecrasft, ... devemos julgar o conto fantástico não
tanto em relação às intenções do autor e os mecanismos da intriga, mas em
função da intensidade emocional que ele provoca. (p. 40)
—
Assim escreve Peter Penzoldt: “Com exceção do conto de
fadas, todas as histórias sobrenaturais são histórias de medo, ...” (p. 41)
—
Existe uma outra variedade do fantástico em que a hesitação
se situa entre o real e o imaginário.
(p. 42)
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Se essas locuções estivessem ausentes, estaríamos
mergulhados no mundo do maravilhoso, sem qualquer ligação com a realidade
cotidiana, habitual; por meio delas, somos mantidos nos dois mundos ao mesmo
tempo. O imperfeito, além do mais, introduz uma distância entre o personagem e
o narrador, de tal modo que não conhecemos a posição deste último. (p. 44)
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Se decide que as leis da realidade permanecem intactas e
permitem explicar os fenômenos descritos, dizemos que a obra se liga a um outro
gênero: o estranho. Se, ... decide que se devem admitir novas leis da natureza,
pelas quais o fenômeno pode ser explicado, entramos no gênero do maravilhoso.
(p. 48)
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O fantástico ... parece se localizar no limite de dois
gêneros, o maravilhoso e o estranho, do que ser um gênero autônomo. ...
sobrenatural explicado ... “estranho” ... sobrenatural aceito ... “maravilhoso”
(p. 48)
—
O estranho realiza, como se vê, uma só das condições do
fantástico: a descrição de certas reações, em particular do medo; está ligado
aos sentimentos da personagem e não a um acontecimento material que desafie a
razão ( o maravilhoso, ao contrário, se caracterizará pela existência exclusiva
de fatos sobrenaturais, sem implicar a reação que provoquem nas personagens).
(p. 53)
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... as histórias policiais tomaram o lugar das histórias de
fantasmas. (p. 54)
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... “os olhos do medo são grandes” [provérbio] (p. 61)
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Esta oposição, como a maior parte das que se encontram em
literatura, não é da ordem do tudo ou nada, mas antes de grau. (p. 67)
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... o fantástico não pode subsistir a não ser na ficção; (p.
68)
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Tal é o paradoxo da linguagem literária: é precisamente
quando as palavras são empregadas em sentido figurado que devemos tomá-las
literalmente. (p. 69)
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... literal ... trata-se antes daquilo que se chama também o
sentido proprio, por oposição ao sentido figurado, aqui o sentido alegórico.
(p. 69)
... a alegoria é uma proposição de duplo
sentido, mas cujo sentido próprio (ou literal) se apagou inteiramente. (p. 69)
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